O crack é uma forma de consumo da cocaína seis vezes mais potente e com maior potencial de causar dependência do que a cocaína em pó. A partir disso o pesquisador Raphael Caio Tamborelli Garcia analisou a influência da metilecgonidina, conhecida pela sigla AEME, na dependência do usuário. Esta substância é produzida a partir da queima da cocaína e corresponde a 80% da fumaça produzida no consumo do crack, mas não aparece quando ela é consumida em pó.
Garcia explica o que acontece no sistema nervoso central quando a AEME age junto à cocaína. “Aumentam a concentração de dopamina em estruturas do sistema nervoso central envolvidas na dependência (chamadas de núcleo accumbens e caudado-putamen) por mecanismos diferentes. A primeira pela interação com receptores colinérgicos muscarínicos e a segunda pela inibição do transportador de dopamina”, afirma o pesquisador.
Ao analisar o efeito das substâncias em ratos, notou-se que quando a AEME é aplicada isoladamente nos animais, ela não é capaz de alterar drasticamente a atividade locomotora dos animais comparada com a aplicação da cocaína. Mas quando a AEME foi ministrada conjuntamente com a cocaína, a atividade locomotora dos ratos teve a sua alteração potencializada.
O uso da versão inalatória da cocaína - o crack - oferece maior potencial de abuso da droga, de dependência e doenças cardiovasculares mais graves, como isquemia ventricular, efeitos pró-trombóticos e aterosclerose coronariana acelerada, segundo Raphael Garcia. “Há ainda estudos demonstrando que usuários com histórico de utilização de crack apresentaram dano epitelial ou da membrana capilar, levando à alterações persistentes na função pulmonar”, continua o pesquisador. “Tais estudos mostram que é possível que a AEME produzida durante o fumo do crack possa contribuir para o dano pulmonar”.