O Brasil é o terceiro país do mundo que mais consome produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. Isso reflete no alto consumo de tinturas e alisantes de cabelo no país. A pesquisadora Simone Aparecida da França, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, analisou efeitos de tinturas e alisantes especificamente nos cabelos caucasianos – tanto cacheados como encaracolados - e notou que para quem pretender alisar e pintar os cabelos, a melhor escolha é utilizar o tioglicolato de amônio.
Segundo os resultados da pesquisa, após a aplicação da tintura por oxidação houve 14% de redução do diâmetro do fio, mas ao mesmo tempo a sua resistência à quebra aumentou. “Durante o processo de oxidação da tintura capilar, há uma polimerização dos corantes no interior da fibra, portanto este polímero contribuirá com a resistência da fibra, pois ele fará parte da estrutura do fio”, explica a pesquisadora, que ressalta que apenas a tintura por oxidação causa este efeito.
Os alisantes, por sua vez, vão sensibilizar muito o cabelo e reduzir a sua resistência. “No processo de alisamento há uma redução e/ou reorganização das ligações de enxofre presentes e responsáveis pela resistência da fibra. Quando há a redução [das ligações de enxofre], a resistência do fio cairá proporcionalmente”, afirma Simone da França.
A pesquisadora alerta, porém, que não se pode afirmar que alisar o cabelo sem tingi-lo o deixará mais fágil.“Para o corante chegar ao interior da fibra é necessário abrir a cutícula do fio e você fragiliza muito a parte externa do fio. No alisamento as alterações são na parte interna, onde localizam-se as ligações de enxofre”, pontua Simone.“Quando você realiza os dois procedimentos você estará submetendo o cabelo ao dano externo (cutícula) e interno (córtex) ao mesmo tempo, e dependendo da condição inicial do cabelo, ele poderá não resistir”.
Simone Aparecida analisou o alisamento do cabelo com as substâncias mais utilizadas no dia-a-dia: hidróxido de sódio, hidróxido de guanidina e o tioglicolato de amônio. “Otioglicolato de amônio é muito interessante para cabelos caucasianos, cacheados e encaracolados.Mas quando você precisa alisar um cabelo crespo os hidróxidos vão ter um resultado mais interessante no aspecto liso do cabelo, mas não em segurança”, comenta a pesquisadora.
Para quem usa secador ou chapinha no cabelo alisado, a dica da pesquisadora é diminuir a temperatura do procedimento, para que haja a menor perda de massa possível do cabelo. “[Após o alisamento] O cabelo fica mais sensível a temperaturas, você pode perceber na temperatura da perda de massa que é muito menor em cabelos alisados”, diz Simone de França.
A pesquisa também analisou a perda de proteínas nos cabelos caucasianos após a lavagem depois da utilização tanto da tintura como dos alisantes de cabelo. Quando o cabelo foi alisado com hidróxido de sódio, a perda de proteínas foi 276% maior do que no caso de um cabelo virgem. O hidróxido de guanidina causou perdas de 187%, enquanto o tioglicolato de amônio foi de novo a melhor escolha, apesar da alta perda proteica 159% maior. Isso se soma ao uso da tinta, que por si só causa uma perda 48% maior de proteínas.
A pesquisadora explica que isso acontece pois no alisamento com tioglicolato de amônio a neutralização do pH da reação que acontece no cabelo é feita com o auxílio do peróxido de hidrogênio, o que religa a estrutura do cabelo após a sua reorganização em um novo formato, que no caso é o liso. Com esta reação há menos proteína solúvel livre no cabelo, o que explica a perda menor. “Os hidróxidos quebram a ligação bissulfídica pelo alto valor de pH. Para interromper este processo é feita a neutralização do pH sem que haja uma religação da estrutura. No tioglicolato essa ligação é quebrada também pelo alto valor de pH, mas depois da reorganização da estrutura é feito um religamento da estrutura utilizando o peróxido de hidrogênio como neutralizante e fixando o cabelo já no novo formato”.