São Paulo (AUN - USP) - O projeto de transposição das águas do rio São Francisco, promovido pelo Ministério de Integração Nacional, não tem levado em conta possíveis riscos que podem prejudicar irremediavelmente a região que receberá essas águas. A tese, defendida por Antonio Carlos de Barros Corrêa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) é endossada pelo professor do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, do Instituto de Geociências, Alberto Pacheco. A preocupação é de que não há o conhecimento total do impacto da água em sistemas de drenagem de semi-árido. “No contexto semi-árido, a falta d’água é parte do funcionamento normal da paisagem e a perenização de um riacho local, sem que se considere a estrutura superficial do mesmo, pode gerar a salinização de terras na região, causando uma catástrofe ambiental gravíssima”, afirmou Corrêa em entrevista ao site Universia Brasil.
O projeto de transposição não conta com o apoio da maioria dos pesquisadores da Universidade de São Paulo. Segundo eles, a obra faraônica não trará os benefícios prometidos à população e beneficiará, prioritariamente, as grandes construtoras e os latifundiários e industriais nordestinos. A discussão ganhou projeção nacional após a greve de fome de frei Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra - BA, com duração de 11 dias, como forma de protesto à proposta do governo.
Em evento realizado no Departamento de Geografia da USP, os professores Marco Aurélio Coelho (IEA-USP), Ariovaldo Umbelino de Oliveira (FFLCH–USP) e Guilherme dos Santos Barbosa (Universidade de Viena) debateram com o coordenador do projeto governamental, João Urbano. As principais questões levantadas foram a respeito da real necessidade da obra, que privilegiaria o agronegócio e populações urbanas e não se destinaria, de fato, aos habitantes do semi-árido.
Alberto Pacheco defende o projeto de revitalização do Velho Chico antes de qualquer obra maior. O Rio, que recebe os esgotos dos municípios em redor sem tratamento, precisaria antes passar por uma despoluição se o que se pretende realmente é o consumo de água pela população. “Como que vai essa água? O rio está em condição de sofrer essa transferência? Não há tratamento de esgoto. Antes da transposição, é preciso uma revitalização”.
A questão das frentes agrícolas, em expansão no cerrado, que acabam modificando o clima na região da nascente do São Francisco também foi levantada no debate. De acordo com Ariovaldo, estudos mostram que o número de nascentes que secaram já ultrapassa três mil. “O Velho Chico está morrendo lentamente”. Segundo o professor, o projeto deve ser discutido, sobretudo no plano político. Para ele, a melhor distribuição de recursos da região e melhora da qualidade de vida da população local passa fundamentalmente pela Reforma Agrária. A água, em sua maioria, seria destinada pela transposição às cidades, privilegiando as elites.