Alfredo Volpi começou a pintar na adolescência e continuou até pouco antes dos 92 anos, em 1988, quando morreu. Deixou uma obra vasta, colorida e marcada por formas geométricas, como as tão características bandeirinhas. Suas cores vivas são agora estudadas para além do estilo: o objetivo da restauradora e geóloga Eva Kaiser Mori é analisar a composição dos materiais usados pelo pintor.
A pesquisa é fruto de uma parceria entre os Institutos de Geociências (IGc) e Física (IF) da USP. Foram analisadas oito obras, dentre elas Bandeirinhas Estruturadas e Carnaval Infantil de Cananeia, todas pertencentes aos acervos do Museu de Arte Contemporânea (MAC USP) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Além das telas, Eva estudou três murais da capela do Cristo Operário, no bairro paulistano do Ipiranga. Quase todo o material data dos anos 1950 e é pintado com têmpera, técnica que remonta à arte italiana dos séculos 14 e 15.
A análise se deu a partir de diversos pontos numa mesma obra, enfocando cores diferentes. Cada ponto era então submetido ao espectrofotômetro e à fluorescência de raios X, ambos métodos não-destrutivos. O espectrofotômetro detecta uma “assinatura” da cor através de curvas espectrais e dados numéricos, segundo escala CIELAB; já a fluorescência de raios X permite definir parte dos elementos químicos presentes nos materiais.
Também foram feitas imagens das obras em diferentes faixas de espectro: luz visível, infravermelho e ultravioleta. Pelo infravermelho, foi possível ver o chamado pentimenti (“arrependimento do pintor”): marcas em grafite abaixo da tinta que não coincidiam com a pintura final, como em Carrinho de Sorvete. O ultravioleta evidenciou a presença de verniz e intervenções de restauro, além de mostrar diferentes interações entre o pigmento e a radiação.
Desse modo, a pesquisadora pôde identificar tons de cores parecidos entre si, mas que podiam ter composições químicas muito distintas. Volpi fabricava suas próprias têmperas em seu ateliê e gostava de experimentar com pigmentos, como diferentes tipos de terra. Entre os elementos comuns foram encontrados o cobalto e o zinco, mas também o nióbio, mais raro.
Os resultados apontaram também para o método de trabalho de Volpi. Ele pintava uma cor de cada vez, “não tinha aquela paleta colorida de pintor, com várias tintas”, conta Eva, que teve apoio de reportagens e depoimentos de amigos do artista. Quando terminava a aplicação, Volpi fazia uma limpeza total da paleta para então começar com uma nova cor, o que garantia maior pureza. Isso explica a homogeneidade dos tons nas obras, de modo que o vermelho do topo de um quadro é praticamente o mesmo vermelho da parte inferior.
Eva trabalhou como restauradora por dez anos e viu no mestrado, que está em fase de conclusão, um modo de unir arte e geologia. Trata-se do primeiro estudo com métodos não-destrutivos aplicados à obra de Volpi e é orientado pela professora Eliane Aparecida Del Lama, que coordena projeto de pesquisa em patrimônio cultural no IGc.