ISSN 2359-5191

02/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 43 - Educação - Faculdade de Educação
Pesquisadora estuda como gênero e religião influenciam docência de professoras do ensino fundamental
Para algumas delas, alguns comportamentos eram esperados de meninos, mas não de meninas, e vice-versa

A pesquisadora Ana Maria Capitânio, em sua tese de doutorado, realizou um estudo de caso com cinco professoras do ensino fundamental I a fim de entender como professoras de religiões distintas percebem as diferenças de gênero e os sentidos da prática docente.

Segundo a doutoranda, o que a levou à escolha do tema foi a percepção, enquanto professora universitária, de como suas alunas, “entre elas, muitas evangélicas, de cursos de Pedagogia e Licenciaturas, lidavam com os problemas de gênero”.

O ponto mais interessante da pesquisa, para Ana, é a forma como a simples percepção das diferenças entre os corpos de meninos e meninas alterava a forma de atuação das professoras. “Por exemplo, é muito natural um menino ser bagunceiro ou falar alto. Esquisito é quando uma menina é assim”, diz. "Os tratamentos que geralmente davam aos meninos eram diferentes para com as meninas.”

Com relação à religião, a pesquisadora enfatiza que: “A oração (rezar) era realizada em sala de aula de uma escola pública, apesar da laicidade dela  por pertencer a um Estado assim, laico. Ao mesmo tempo, as crenças religiosas eram  formas de garantir que a violência ficasse fora da escola, pois fazia as crianças se sentirem vulneráveis.”

Ana Maria conta que é comum que as pessoas não entendam a diferença entre estudos de gênero e sexualidade. “Uma das professoras pensava que eu estava estudando sexualidades, e por isso ela começou a falar de uma menina que gostava de futebol. Mas, raciocine comigo: não há correlação entre gostar de futebol e orientação sexual! Este jeito de ser é um tipo de feminilidade, a princípio.”

A crença religiosa das professoras, no entanto, parece ser crucial na determinação do sentido da docência, para elas. Segundo Ana: “As professoras, por mim estudadas, revelaram que, em razão de toda a desvalorização e precarização da profissão, é com essa postura de sacerdócio que elas encontravam sentido para seguirem em frente.”

Para ela, entretanto, tal postura não é total ou necessariamente positiva. “Penso que, por  se sentirem vulneráveis  à violência e às condições precárias de trabalho, as professoras deixam de ter uma visão crítica e de luta ao escolherem suas crenças religiosas como uma forma de amenizar a realidade.”

A doutora acredita que sua tese abre um campo de estudos a ser explorado, uma vez que não há um grande número de estudos que articulam gênero, religião e educação escolar. Para ela, a relevância do tema se explica pela enormidade de questões que necessitam de mais estudos para serem melhor respondidas, como por exemplo:“A partir de um saber sobre as diferenças entre os corpos, como isso gera desigualdades? Como gera tratamentos diferenciados? Como influencia, por exemplo, nas formas de avaliação dos alunos e alunas? Como se estabelecem as relações de poder a partir dessa percepção da diferença sexual?”

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