ISSN 2359-5191

11/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 47 - Arte e Cultura - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Humor crítico e piadas rápidas são receita do sucesso de Mauro Rasi
Expoente do Teatro Besteirol, dramaturgo criticou de maneira debochada o regime militar durante as décadas de 70 e 80
Cartaz de peça de Mauro Rasi estrelada por Claudia Raia e Miguel Falabella em São Paulo, em 2004. Imagem: http://maurorasi.com.br/

As famosas sketches de humor de grupos como Porta dos Fundos, Terça Insana, Comédia MTV e Casseta e Planeta são herdeiras da obra do dramaturgo brasileiro Mauro Rasi, um dos criadores do Teatro Besteirol, gênero originado na década de 1980, quando já se baseava em paródias, piadas rápidas, atores fazendo papéis femininos e tantos outros recursos ainda comuns em humorísticos de hoje. Mas, apesar do tom escrachado e do constante deboche aos costumes, a crítica ao regime militar que então governava o país também é marca das peças de Rasi. Essa é uma das revelações de um estudo sobre a dramaturgia do autor, defendido como tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Segundo o pesquisador Luís Francisco Wasilewski, o Besteirol era considerado pela esquerda brasileira um movimento de teatro alienado. "Mostro, através da análise das peças, que Rasi era crítico, de uma maneira debochada, em relação ao autoritarismo em que o Brasil vivia", afirma. Para Wasilewski, a crítica era sutil, mas presente: "Era na base do escracho, os autores do Besteirol não tinham essa preocupação, como Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, de escrever uma peça que fosse uma metáfora contra a ditadura militar, mas a crítica aparecia". Como exemplo, cita a peça Se Minha Empregada Falasse, na qual uma personagem, ao ouvir no rádio o nome de candidatos a deputado, diz que não acredita na democracia. "Na época, era permitido à população votar em alguns candidatos a deputado, e a personagem diz que não acredita na democracia, mostrando como o Brasil ainda vivia sob ditadura", explica.

Apesar das críticas ao regime político, segundo Wasilewski, sabe-se apenas da ocorrência de censura a uma peça de Mauro Rasi que abordava o homossexualismo. "A ditadura não censurava apenas quem a contestava politicamente, a questão sexual também era muito mal vista: falar de homossexualismo, tratar da questão feminista também incomodava o regime", comenta. Lançada em 1972, a peça A Massagem, que tinha os atores Nuno Leal Maia e Stênio Garcia como protagonistas, "falava sobre o homossexualismo e logo depois de sua primeira - e única - montagem já entrou na lista de peças proibidas pela ditadura", afirma Luís Wasilewski.

Legado para os jovens de hoje

Luís Francisco Wasilewski destaca que a comédia de costumes tem a característica de apresentar um retrato da sociedade em que foi produzida. Assim, a obra de Rasi revelou a realidade do Brasil das décadas de 70 e 80, quando o país era governado por um regime autoritário, e nisso reside sua importância social, servindo, em especial, de legado para muitos jovens de hoje, que desconhecem os fatos do período em questão. "Hoje os jovens não sabem o que é uma ditadura militar, tanto é que tem gente pedindo a volta dela", pontua o pesquisador. "Rasi está falando sobre o problema que é viver em um regime autoritário, está revelando os males de uma ditadura", indica. Como exemplo dessa realidade autoritária, Wasilewski narra trecho do enredo da peça As 1001 Encarnações de Pompeu Loredo: "A personagem vai fazer regressões em seu paciente, mas está sendo perseguida pela ditadura, eles batem à porta, eles invadem a sessão de regressão", conta.

Influência dos clássicos

A pesquisa também mostra que, além da ocorrência de crítica ao regime militar, outro aspecto das peças de Mauro Rasi que vinha sendo subestimado por críticos é a utilização de alguns procedimentos teatrais que são típicos de dramaturgos consagrados. "Os procedimentos que ele usava nas peças são os mesmos que você pode encontrar, por exemplo, em uma peça do Aristófanes, numa peça do Shakespeare, numa peça do Arthur Azevedo, numa peça do Qorpo Santo", indica Wasilewski. De acordo com o pesquisador, um exemplo pode ser encontrado em cena da peça A Receita do Sucesso, na qual a personagem peida, algo que aparece em obras de Aristófanes e também na Comédia dos Erros, de Shakespeare.


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