São Paulo (AUN - USP) - Oito áreas de disposição de resíduos sólidos – os chamados aterros sanitários – utilizadas na década de 70 foram o objeto da dissertação de mestrado de Francisco Adrião Neves da Silva. O despejo indiscriminado de detritos que era realizado na época causou impactos ambientais e contaminação das referidas áreas. O pesquisador constatou a presença de gases e substâncias tóxicas que, ainda hoje, oferecem riscos à saúde dos moradores que ocuparam essas regiões. “Chega a existir a possibilidade de ocorrerem explosões, que apesar de pequena, não pode ser descartada”, afirma ele, devido à geração de gases (como o metano). Em alguns aterros, foram também identificados compostos orgânicos voláteis tóxicos, e até cancerígenos, dependendo da quantidade ingerida.
Nos aterros Raposo Tavares e Jardim Damasceno, o contato direto com os resíduos e o percolado (líquido oriundo da decomposição do lixo e das chuvas, portanto com grande carga de poluição) acarretam danos mais sérios à saúde da população. Já a inalação de substâncias tóxicas ameaça, além do Jardim Damasceno, as regiões de Pedreira Itapui, Carandiru e Lauzanne Paulista e os parques de Raposo Tavares e Engenheiro Goulart. A contaminação das águas subterrâneas não oferece risco imediato à saúde da população local, pois esta se encontra provida de abastecimento público de água. Para coletar essas informações, Francisco Adrião lançou mão de fotografias e mapas aéreos e de dados existentes em órgãos públicos ou empresas. Segundo ele, trata-se de uma avaliação preliminar por não contar com medições diretas, mas baseada em observações visuais e levantamento de escritório.
Dentre os oito aterros avaliados, apenas dois, os de Pedreira Cit e Vila São Francisco, ainda não estão ocupados. O autor alerta para a necessidade de um programa de gerenciamento de áreas contaminadas. Isso permitiria estabelecer um planejamento urbano que considerasse as prioridades de recuperação e fizesse um controle do uso do solo atento às necessidades da população. “Nessas áreas ainda livres, devem ser tomadas medidas preventivas, para evitar que os mesmos problemas se repitam”, aponta ele. É comum que a ocupação dessas áreas se dê por loteamentos clandestinos e favelas. A do Jardim Damasceno, por exemplo, encontra-se sobre parte do homônimo antigo depósito de lixo. O coordenador do estudo, professor Alberto Pacheco, aponta que os aterros atuais de São Paulo apresentam uma vida útil de mais quatro ou cinco anos. “Um problema é onde o lixo será colocado depois. O outro é que a prefeitura não pode abandonar pura e simplesmente o local em que ela colocou o lixo”, diz Pacheco.
Francisco Adrião é otimista quanto à situação atual. Ele afirma que hoje os dois aterros de São Paulo seguem os critérios da norma estadual (estabelecida pela Cetesb – Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental). É feita a drenagem do chorume e este é então levado para a estação de tratamento de esgoto. Além disso, ele fala das discussões do novo governo do Município em torno da criação de uma Gerência de Riscos Ambientais. Trata-se de uma proposta de articulação entre várias secretarias – necessária para realizar projetos como o descrito acima. Para Francisco, que trabalha na Secretaria do Verde e do Meio do Ambiente do Município, “a prefeitura, tradicionalmente, não costumava participar de análises dessa espécie. Nesse caso, elas seriam feitas pela Cetesb”.