ISSN 2359-5191

18/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 52 - Arte e Cultura - Escola de Comunicações e Artes
Pesquisa aponta que filmes coloridos eram comuns no Brasil no início do século 20
Estudo da USP comprovou que colorização de produções era comum nesse período, diferente do que se imaginava
Filme "Veneza Americana", de 1925, é exemplo de produção colorida do cinema silencioso. (Foto: Divulgação)

O primeiro filme brasileiro totalmente colorido foi lançado em 1953. Mas, algumas décadas antes, entre o fim do século 19 e início do 20, o país já investia em técnicas para dar algumas cores às suas produções. É o que revela uma pesquisa realizada na Escola de Comunicações e Artes da USP, que provou que a prática era bastante comum – diferente do que costumava-se pensar.

O estudo faz parte da dissertação de mestrado A cor no cinema silencioso do Brasil (1913-1931): produção e linguagem, da pesquisadora Natália de Castro. Ela explica que, por diversas razões, a ideia de que filmes coloridos eram comuns no Brasil já na era das produções silenciosas costuma causar surpresa. Uma delas é a falta de cuidado com a preservação das cópias, uma vez que elas eram colorizadas, e não os originais. Outro problema é que muitos negativos foram perdidos em incêndios, já que o material utilizado como suporte das películas, o nitrato, é muito inflamável. Devido a esses problemas, muitos filmes chegaram aos dias de hoje em preto e branco, apesar de cópias coloridas terem sido produzidas à época de seu lançamento.

Por meio da análise de filmes do acervo da Cinemateca Brasileira e da consulta a jornais da época, a pesquisadora constatou que o Brasil costumava colorir suas produções com bastante frequência. Em vários artigos publicados pelos jornais havia menção a filmes coloridos, que eram considerados quase um protogênero cinematográfico. "Os filmes eram anunciados como coloridos, assim como havia os cômicos, por exemplo", diz. Na Cinemateca, a pesquisadora encontrou 27 filmes coloridos no período compreendido entre 1913 e 1931. Ela analisou cada um deles para saber exatamente quais trechos foram colorizados e quais técnicas empregadas.

Depois da avaliação, Natália notou que o cinema brasileiro do período utilizou apenas duas técnicas de colorização: o tingimento e a viragem. A primeira consiste na aplicação de cor tingindo a base do filme, através da imersão do trecho que se queria colorir em um banho de corantes.

Já a viragem, que também era largamente utilizada na fotografia, transforma a química da prata metálica que forma a imagem em outro composto colorido. "A viragem torna o elemento formador da imagem colorido e não altera a cor da base do filme, enquanto o tingimento colore a base do filme, deixando a prata da emulsão inalterada", explica a pesquisadora. Na viragem, as partes escuras são coloridas, mas as partes claras continuam brancas. Por vezes, as duas técnicas eram combinadas, tendo como resultado imagens bicolores.

 

“Chegada do hydro avião Jahu ao Rio de Janeiro”, colorido com         Filme “As curas do professor Mozart”, colorido através de 
tingimento (Arquivo/Cinemateca)                                                   tingimento e viragem combinados (Arquivo/Cinemateca)

Outra técnica possível, esta mais detalhista, era a pintura à mão. O negativo do filme era colorido cuidadosamente com um pincel. Mas, por ser muito cara, não foi utilizada no Brasil no período analisado pela pesquisa. Fora do país, no entanto, ela era bastante empregada.

Os motivos para a colorização, segundo a pesquisadora, eram os mais variados: representar de maneira mais realista, aumentar ou reduzir o contraste e quebrar a monotonia eram alguns deles. O mais comum, no entanto, era atrair o público. "As cores eram empregadas para tornar os filmes mais agradáveis e vistosos para o espectador", explica. Mas ela ressalta que o uso das cores nem sempre apresentava uma razão definida. "Em muitos trechos, no entanto, as cores não pareciam ser empregadas por nenhum motivo particular, o que reforça a ideia de que a colorização de filmes era prática recorrente no período."

Para Natália, seu estudo contribui com o levantamento de filmes coloridos, que podem ser utilizados em outras pesquisas, e também ajuda a desmistificar antigas concepções de que o cinema silencioso era necessariamente em preto e branco. Pelo contrário, o uso das cores era algo que acontecia com frequência.

A partir da realização da pesquisa e da análise dos filmes da cinemateca, a pesquisadora também alerta para a necessidade de investir na conservação das cópias de filmes antigos. "Muitos dos filmes analisados nesta pesquisa são materiais únicos, com início de degradação e que precisam ser duplicados urgentemente, o que é certamente inviável na atual situação da Cinemateca Brasileira."                                                                                 

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