ISSN 2359-5191

24/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 56 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Pesquisa aponta midiatização do consumo e representação da “nova classe C” em telenovelas
Tramas de 2012 abordam ascensão social e transformação do panorama econômico do Brasil
Representantes da "nova classe C" ganham espaço em telenovelas (Crédito: TvFoco)

Para sua dissertação de mestrado em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP, Rosana Mauro estudou as novelas Cheias de Charme e Avenida Brasil, exibidas em 2012 pela Rede Globo. Segundo ela, a “telenovela contribui para reproduzir hegemonias, apresenta um modo próprio de representar as classes, e pode trazer mudanças. Cheias de Charme apresentou um discurso mais tradicional, enquanto Avenida Brasil inovou mais na forma de representar a classe popular.”

De acordo com a pesquisadora, as novelas escolhidas são boas fontes de estudo porque – posto que os folhetins, em geral, não fazem críticas sociais profundas – inovaram ao representar o popular, e têm peculiaridades na midiatização do sentido de classes.

“Sempre assisti a telenovelas, desde criança. Por isso o meu em interesse em estudar a teleficção. Acredito que a telenovela tem muito a dizer sobre o nosso país”, diz. “Assim, como muitos teóricos em diferentes épocas estudam ou mencionam pinturas e obras literárias, por exemplo, para analisar a cultura e costumes de determinado povo em determinada época, a telenovela também pode servir para o mesmo no caso brasileiro.”

A tabela a seguir apresenta como algumas das características da classe trabalhadora ascendente do Brasil (conhecida como “nova classe C”) são representadas em cada um dos folhetins. Como alguns dos personagens vivenciaram uma mudança muito radical em termos de poder econômico, as situações demonstradas podem não corresponder exatamente àquelas que ocorrem na sociedade  no entanto, ainda que se deem de maneiras distintas, os aspectos envolvidos são os mesmos.

 

 

A pesquisadora, no entanto, não concorda com a existência de uma “nova classe C”, propriamente. Rosana diz concordar com uma denominação mais adequada utilizada pelo sociólogo Jessé de Souza (referência para sua dissertação): “nova classe trabalhadora”.

Isso porque, segundo ela, o conceito de classe média implica outras questões além da financeira, como o capital cultural historicamente transmitido. Assim, relacionar a classe social apenas com o aspecto econômico, e, portanto, chamar uma parcela da população ascendente de ‘nova classe C’ ou ‘nova classe média’ seria ignorar uma série de outras questões sociais. “É reafirmar a visão hegemônica neoliberal vigente.”

Rosana reforça a importância da telenovela enquanto discurso: “Afinal, que visão de mundo é essa que está sendo representada? Como as mudanças sociais são refletidas também no discurso teleficcional? Se a telenovela, na maioria das vezes, reproduz um discurso hegemônico mercadológico, da meritocracia, é porque estamos inseridos nesse contexto neoliberal.”


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