ISSN 2359-5191

06/01/2006 - Ano: 39 - Edição Nº: 23 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Tese questiona tradição do começo, meio e fim

São Paulo (AUN - USP) - “Era uma vez uma história bem pobrezinha, tão pobrezinha que não tinha personagens, não tinha começo, não tinha meio, não tinha fim, nem enredo ela tinha. E para que serve uma história sem enredo?”. Quando Paulo Leminski escreveu a história de uma história sem enredo, talvez não imaginasse que o status do enredo enquanto elemento principal de uma peça teatral pudesse ser colocado em xeque, e nem que surgissem tantas possibilidades desse questionamento.

É justamente esse tema que é tratado na tese de doutorado defendida na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP) por José Manuel Lázaro de Ortecho Ramirez, intitulada “Fábulas mutantes na floresta pós-moderna: perspectivas da narratividade dramática na contemporaneidade”.

Para o autor, pode-se dizer que, no teatro, a narratividade contemporânea é sintonizada e influenciada pelo momento atual, ela é sempre uma metáfora do momento em que é realizada. Assim, nosso modo de contar histórias é produto de fatores como a cultura globalizada, o consumismo, a velocidade e o excesso de informações, da revolução provocada pela TV, da alteridade cultural, e de teorias e conceitos como as propostas de Nietzsche, o estruturalismo, etc.

Desse modo, numa época em que somos saturados de informações, a não história, ou a história sem enredo, caracterizada pela anarquia, pelo acaso, pela indeterminação, surge como forma de equilíbrio. Mais do que isso, ela propicia uma libertação da necessidade de seguir uma linha de raciocínio lógica, restando ao espectador apenas receber sensações. A tendência atual passa a ser o uso da metalinguagem, o dinamismo nos diálogos, a intertextualidade (partir de textos anteriores para formar novas propostas), as enunciações sutilmente sugeridas, e o predomínio de elementos simbólicos.

No entanto, na ausência do enredo, qual elemento passaria a servir de base para a peça? Para Ramirez seria o conteúdo, aquele “querer dizer algo” do espetáculo. Esse conteúdo pode tanto estar implícito, nas entrelinhas, como inacabado, ficando a encargo do espectador preenchê-lo a seu modo.

Metodologia

De modo a propor a análise do que o pesquisador chama de “a crise da fábula”, a tese se constitui de uma seqüência de quatro ensaios, com o primeiro tratando do contexto histórico-cultural em que se dá esse questionamento. O seguinte aborda as principais manifestações artísticas que tiveram influência sobre o modo contemporâneo de contar histórias, e o terceiro de uma análise dessas mesmas manifestações. Por fim, o último ensaio fala da utilização dos conceitos apreendidos nos ensaios anteriores para discutir a atual situação da fábula (aqui entendida como enredo) e da dramaturgia pós-modernas.

Nesse sentido, Ramirez identifica três formas de narrações contemporâneas: a Multifábula, que seria uma conjunção de diversos micro-enredos; a Des-fábula, na qual o enredo não é o elemento primordial; e a Não-fábula, que dispensa o enredo.

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