ISSN 2359-5191

01/07/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 61 - Educação - Escola de Comunicações e Artes
Improvisação livre pode ser alternativa para o ensino de instrumentos musicais
Método pretende tornar mais liberal, agradável e acessível aprendizado das cordas dedilhadas, e pode ser adaptado para outros tipos de instrumentos
(Família dos instrumentos de cordas dedilhadas inclui desde o violão e a guitarra até o ukulelê e a harpa Créditos: Cleber Leony)

Aprender a tocar instrumentos musicais é um grande desafio. São muitas horas de prática diária, repetições incansáveis de escalas, de técnicas de execução, de postura, de dedicação. André Campos sugere uma nova forma de ensino de instrumentos de cordas dedilhadas por meio da improvisação livre, que pretende facilitar e ampliar o alcance do aprendizado musical.

Em sua tese de doutorado, André formulou um “Caderno de Iniciação”, no qual resume o método que desenvolveu a partir de suas pesquisas. Seu objetivo era contornar os problemas observados na iniciação aos instrumentos, entre os quais se incluem a exigência de conhecimentos prévios relativamente avançados de teoria musical e o cerceamento da liberdade criativa do intérprete.

Nos métodos tradicionais, a improvisação só acontece a partir de um estágio intermediário de domínio do instrumento, em que o aluno já dispõe de certa habilidade técnica e teórica. Como consequência, muitos desistem ao longo do processo, desestimulados pela repetitividade dos exercícios e pela distância entre eles e a execução musical propriamente dita, ao menos nos estágios iniciais.

André explica: “O Caderno visa contribuir para a ampliação do material didático para a iniciação aos instrumentos de cordas dedilhadas através de uma linguagem atual, afinada com a música da contemporaneidade, por meio de uma abordagem acessível e simples, onde conhecimentos de teoria e leitura musical não são exigidos.”

O pesquisador estudou ainda a forma como se ensina música em alguns dos Conservatórios Estaduais de Música de Minas Gerais, e cita como exemplo para reforçar a validade de sua proposta a Resolução 718/2005, que rege seu funcionamento. O Artigo 5º prevê “a sondagem de aptidões artístico-musicais”

Tal sondagem raramente ocorre porque os empecilhos impostos pelo modelo tradicional de ensino impedem que os iniciantes demonstrem ter ou não a referida inclinação ao instrumento. Segundo André, “A improvisação livre é uma excelente ferramenta educacional para esta ‘sondagem de aptidões’, pois para sua prática não é obrigatoriamente necessário que se domine ou conheça o instrumento musical.”

O músico argumenta ao comentar um trecho de seu Caderno, apresentado abaixo:



“Neste roteiro para improvisação todos os gestos instrumentais já foram praticados anteriormente. Eles estão delimitados por módulos, sem indicação temporal ou de dinâmica e foram organizados de forma a representar as letras do alfabeto. A improvisação é baseada nas letras pertencentes ao nome, sobrenome ou apelido do intérprete, onde a ordem de execução dos gestos instrumentais será determinada pela ordem de aparecimento destas letras. Por exemplo: ANDRÉ é formado por “A, B, C,” + “M, N, O” + “D, E, F” + “P, Q, R” + “D, E, F”. O intérprete terá liberdade para improvisar através das sugestões gestuais presentes no interior de cada módulo, entretanto esta liberdade será limitada pelos módulos formantes de seu nome, sobrenome ou apelido.”


O pesquisador reforça que, apesar do direcionamento controlado das improvisações, a meta do trabalho sempre foi a busca pelo registro mais livre possível, para que a liberdade do executante fosse preservada, fazendo dele, mais do que um intérprete, um intérprete-criador (conceito de Rogério Costa).

André também deixa claro que a importância do ensino de teoria, percepção e história da música, bem como de outros conteúdos vinculados à área, não é negada ou diminuída de forma alguma pelo método que propõe. O que questiona é a dificuldade que uma pessoa sem esses conhecimentos encontra quando deseja aprender a tocar um instrumento, em razão dos modelos tradicionais a que é submetido, que os têm como requisito.

E encerra: “Esta modalidade de improvisação, através da ênfase nos elementos pré-musicais, no objeto sonoro, na valorização do timbre e da textura, incentiva a criação musical, gestual e instrumental, propiciando ao aprendiz uma atitude libertadora das regras impostas pela tradição musical.”


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