Em busca da valorização e proteção do meio ambiente a partir do conhecimento das geociências, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (Geohereditas) criou o projeto “Areias do Litoral Norte de São Paulo”. A pesquisa, que também envolveu a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) e o Instituto de Geociências (IGc), ambos da USP, buscou sensibilizar a população sobre a beleza da natureza que não é visível a olho nu e trazer um maior conhecimento sobre o funcionamento do planeta.
A professora Christine Bourotte, coordenadora do projeto, cita que a proposta do projeto surgiu a partir do interesse dos alunos em observar amostras de areais de diferentes ambientes sedimentares, quando era docente na EACH, localizada no campus da USP Leste. Transformando-o em projeto de pesquisa, buscou, a partir do núcleo de apoio à pesquisa (NAP) Geohereditas, realizar uma análise das areias do litoral norte paulista, o que também ajuda na divulgação da área que, segunda ela, é pouco conhecida: “as geociências são frequentemente deixadas de lado, mas é o substrato rochoso que dá embasamento à flora e à fauna”, disse a pesquisadora.
Ao longo de três anos, foram coletadas amostras e realizados estudos acerca dessas areias, que, segunda a professora, são bem diversificadas. “O fator comum seria a área fonte, ou seja, a Serra do Mar, mas, dependendo dos tipos de rochas, as drenagens irão trazer sedimentos diferentes para a praia”. O fato do litoral ser recortado, formando pequenas baias, também influencia a dinâmica costeira. Além disso, a diversidade de rochas em Ilhabela, por exemplo, também torna os grãos das praias da ilha diferentes.
Para a pesquisadora, o conhecimento acerca dos tipos de areias é muito importante: “Costumo dizer que, após a observação das areias na lupa, nunca mais as pessoas têm o mesmo olhar para a areia da praia ou dos rios”, comenta Bourotte. “Muitas praias são conhecidas por determinados tipos de areias, mais grossa, mais fina ou mais escura, entre outras, mas quem as frequentam não sabem o porquê destas diferenças”.
Para a professora, do mesmo modo que o conhecimento da flora e da fauna fazem as pessoas respeitá-las e protegê-las, “ o conhecimento do meio físico como um todo vai levar às comunidades locais e aos visitantes o sentimento de dever cuidar destes elementos da paisagem, para que ela seja preservada e possa sempre ser desfrutada.”
Ameaças e divulgação
O turismo de massa, o crescimento populacional desenfreado e sem planejamento, além da exploração de recursos naturais sem o devido retorno à natureza e questões como a ampliação do Porto de São Sebastião e a redução da área de amortecimento do Parque Estadual da Serra do Mar em Caraguatatuba, visando a instalação de um polo petroquímico, são sérias ameaças ao ambiente do litoral norte de São Paulo. “O planeta levou um tempo enorme para formar estas paisagens. Não dá pra destruir tudo tão rápido sem pensar no futuro”, cita a pesquisadora. Com o conhecimento maior das diversas áreas relativas ao ambiente, a pressão pela manutenção desses meios cresce: “preserva-se mais o que se conhece melhor”.
No 45º Congresso Brasileiro de Geologia, que ocorreu em Santos, foi realizado um evento paralelo para o público para a divulgação das Geociências. Várias atividades foram propostas para o público, duas delas voltadas para as areias: houve uma oficina com observação de areias na lupa e uma maquete do litoral paulista, na qual foram colocadas algumas amostras de areias para mostrar a diversidade ao longo do encontro do continente com o oceano. A professora também tem planos de criar um Atlas com as imagens observadas em lupa das areias das praias do norte de São Paulo. “O objetivo é fazer com que a Geodiversidade, assim como sua relação com os outros sistemas que formam a paisagem, com componentes culturais e econômicos, seja reconhecida, valorizada e protegida.”