Conhecer o patrimônio geológico é essencial para preservá-lo. Com isso em mente, Eliane Aparecida Del Lama, professora do Instituto de Geociências (IGc/USP), conduz projeto de pesquisa voltado à aplicação da mineralogia na herança cultural. De 2004 até hoje, já foram feitos quase 20 estudos com foco principal em caracterizar o estado de conservação de monumentos históricos na cidade de São Paulo e promover sua divulgação.
Primeiramente, foram mapeados monumentos na cidade, totalizando quase uma centena, que se concentra no centro velho e data até a década de 1960. Aos poucos, o projeto foi se estruturando. Em 2008, com apoio da Fapesp, Eliane providenciou os primeiros equipamentos para os estudos: o aparelho ultrassom, que analisa velocidade das ondas no interior das rochas, e o espectrofotômetro, usado na distinção de cores.
Para se adaptar aos aparelhos, optou-se por estudar monumentos em bom estado de conservação -- por exemplo, o Monumento às Bandeiras ou o Monumento a Ramos de Azevedo. Hoje, já estão sendo feitas pesquisas que lidam com situações problemáticas, como degradações do Cemitério da Consolação ou da fachada do Theatro Municipal.
Outra questão observada ao longo da trajetória do projeto foi o vandalismo, por exemplo, de pichações que danificam as pedras. Nesse sentido, Eliane acredita que é fundamental uma educação patrimonial, que pode começar a ser introduzida através do geoturismo. “Às vezes, as pessoas não gostam [de geologia] porque não conhecem”, disse, em comparação com a Europa, onde as geociências fazem parte do ensino básico.
O projeto já desenvolveu roteiros pelo centro, pelo Cemitério da Consolação e por algumas igrejas, mas ainda não foram viabilizados. A ideia da professora é incorporar algumas informações geológicas ao material turístico da prefeitura. Outra possibilidade é editar panfletos e promover capacitação de monitores junto ao Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo (GeoHereditas), no IGc.
Contexto histórico
Boa parte dos monumentos estão relacionados à fundação e ao crescimento de São Paulo, indicando determinados contextos econômicos. “Trazer rochas de outros lugares esteve muito associado à época do café, quando havia muito dinheiro circulando”, diz a professora, citando pedras italianas, portuguesas, baianas e mineiras que compunham alguns monumentos. “Com a crise do café, você vê claramente a mudança do tipo de pedra utilizada”, completou.
Após os anos 1920, com a crise da cafeicultura foram mais utilizadas as rochas paulistas. As mais importantes foram os chamados granitos: Itaquera (Obelisco da Memória), Preto Piracaia (Caixa Cultural), Cinza Mauá (pisos do Centro Velho), Rosa Itupeva (Tribunal da Alçada Civil) e Verde Ubatuba (agência Banco do Brasil, na praça Antônio Prado).
Patrimônio artístico
Além dos monumentos históricos, o projeto de Eliane engloba estudos dos materiais usados em obras de arte. Há dois mestrados em andamento sob sua orientação, um relacionado à pintura de Alfredo Volpi e outro aos afrescos de Fulvio Pennacchi.