A partir de amostras de sangue, foi desenvolvido um método que consegue detectar, de forma personalizada, a presença do tumor em pacientes com câncer de reto, auxiliando o tratamento da doença. A pesquisa de Paola Carpinetti-Oliveira, em sua tese de doutorado pelo Instituto de Química da USP, também constatou que tal método pode ajudar a evitar a cirurgia desnecessária no tratamento desses pacientes, além de ser capaz de detectar a volta da doença mais precocemente que os exames atuais utilizados na prática médica.
Nesse método são utilizados marcadores moleculares que se baseiam em características genéticas específicas do tumor e essas diferenças fornecem a especificidade necessária para detectar de maneira indireta a presença da doença. Como cada paciente tem um tumor diferente de qualquer outro, resultado de uma combinação única de alterações genéticas, essa tem que ser uma abordagem personalizada.
Para a identificação dos marcadores moleculares, é necessário o sequenciamento completo do genoma do tumor do paciente, extraído de uma pequena amostra de tecido retirada durante o diagnóstico da doença. Através de análises computacionais das sequências geradas, são identificadas as alterações genéticas que são específicas do tumor do paciente e não são encontradas nas células sadias.
Uma plataforma computacional foi utilizada no sequenciamento do genoma, que, com base em algorítmos, evitou a necessidade de se mapear todo o genoma do paciente. A plataforma permite que sejam feitos sequenciamentos de DNAs de forma simples e rápida, permitindo que sejam descobertos eventuais diferenças na sequência de forma rápida e precisa. Essas alterações podem ser deleções, quando uma região é apagada do genoma, ou uma translocação, quando um pedaço do cromossomo se funde a outro.
Através da corrente sanguínea, podem ser detectados vestígios de DNA circulante de células tumorais. Este processo acontece com praticamente todas as células do organismo, devido a mecanismos fisiológicos comuns. Assim, de acordo com Paola, a percepção destes vestígios podem ser úteis na monitoração da doença.
Com isso, pode-se utilizar um método que permite identificar exclusivamente as moléculas de DNA cuja origem seja tumoral, a partir das quais é possível concluir se o paciente ainda apresenta vestígios da doença no organismo. Isso ocorre devido a detecção de características específicas presentes nessas células tumorais.
Apesar de os resultados serem satisfatórios quanto às expressões mais invasivas do tumor, em tumores menos invasivos não se conseguiu que os marcadores identificassem vestígios de DNA circulante na corrente sanguínea após o tratamento. Por sua vez, nos casos mais invasivos, a abordagem não conseguiu ser sensível o suficiente para detectar uma pequena quantidade de células que podem fazer a doença ressurgir, chamada doença residual mínima.
Em publicações e pesquisas recentes, foram apontadas novas formas para melhorar a detecção do DNA tumoral circulante, como por exemplo, o uso de maiores quantidades de sangue para a obtenção do DNA circulante. Também pode ser considerado, adaptações no método para melhorar a eficiência de detecção destas moléculas a partir do sangue.
Também ainda não existem exames radiológicos ou de imagem que consigam detectar todas as lesões de células tumorais. Apesar de já conseguir detectar lesões bem pequenas, os exames tem dificuldade em diferenciar lesões tumorais e celulares com cicatrizes. Assim, isso impede que sejam detectados possíveis vestígios do tumor que possa ter resistido ao tratamento.
Outras formas de continuar a pesquisa envolvem fazer mais pesquisas para que ocorra a disponibilidade do método para atender pacientes. Além disso, é possível analisar mais profundamente os exames de imagem e os níveis de outros marcadores biológicos a partir das amostras de sangue que seriam coletadas para a detecção do DNA circulante. Paola aponta que isso permitiria analisar mais complexamente os resultados obtidos para avaliar as reações do tumor e para chegar a uma melhor forma para o tratamento da doença.