São Paulo (AUN - USP) - A duplicação da produção de álcool por tonelada de cana-de-açúcar, matéria-prima do combustível, é resultado de um projeto em estudo no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Tal fato é possível graças ao desenvolvimento de tecnologias que aproveitam, além da sacarose da cana, o bagaço e a palha da planta, atualmente desperdiçados ou mal aproveitados, para a produção do álcool.
Segundo Antonio Bonomi, pesquisador do IPT, o Estado de São Paulo produz aproximadamente 85 toneladas de cana-de-açúcar por hectare plantado. Cada uma dessas toneladas pode render 85 litros de álcool com o método atual, que aproveita apenas a sacarose (1/3 do que é colhido). Sendo assim, esses 7225 litros de álcool por hectare, chegam ao consumidor, obviamente, com o custo repassado da matéria-prima, o qual equivale a 60% do custo do combustível. Dessa forma, com a implementação da nova técnica e a conseqüente duplicação desse rendimento de litros por hectare, seria esperada uma redução de preços nas bombas.
O pesquisador do IPT ressaltou o grande potencial brasileiro na produção de álcool, devido ao clima favorável e à abundância de terras. Entretanto, a ocupação dessas terras com canaviais, em detrimento dos gêneros alimentícios e pastos, não é benquista socialmente. Assim, a maior rentabilidade num menor espaço, proporcionada pela nova técnica de aproveitamento, seria uma solução.
Outro problema que pode ser resolvido com a viabilização desse projeto é de cunho ambiental: a palha da cana-de-açúcar, hoje, é queimada. Com o reaproveitamento dessa palha, a poluição do ar e a emissão de gás carbônico, agente intensificador do efeito estufa, seriam reduzidas.
Acordo de cooperação
A recente visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil rendeu a assinatura de um acordo entre os dois países que defende uma cooperação mútua no desenvolvimento de tecnologias de produção de biocombustíveis. “Interessante é que ninguém ainda conseguiu uma cópia desse acordo”, afirma Bonomi.
O pesquisador aponta o interesse norte-americano: “A cana rende muito mais álcool que o milho; o custo do álcool brasileiro está entre US$0,16 e US$0,20, enquanto o norte-americano, apesar dos subsídios, está em torno de US$0,30. Eles [os EUA] precisarão comprar [álcool], pois possuem uma grande demanda”. No entanto, Bonomi teme que essa abertura, sem um alto investimento nacional em pesquisas, traga conseqüências para o Brasil, como a dependência de tecnologias estadunidenses e pagamento de royalties por elas.
A técnica
Há dois processos para o aproveitamento do bagaço e da palha da cana: o térmico e o químico, afirma Bonomi. O primeiro baseia-se numa técnica conhecida por BTL (do inglês Biomass to liquid), que consiste na gaseificação dos materiais lignocelulósicos (constituintes do bagaço e palha da cana). Em seguida, através de um processo de síntese química com a presença de catalisadores, formam-se metanol, etanol e, dependendo do catalisador utilizado, até gasolina ou diesel com baixos teores de enxofre, menos poluentes.
O processo químico pode ser efetuado a partir das hidrólises (quebra de moléculas catalisada por enzimas) de dois dos três componentes dos materiais lignocelulósicos: a celulose e a hemicelulose; o terceiro componente é a lignina a qual, separada no processo, é queimada, a fim de gerar a energia necessária para que tudo isso ocorra. Entre a celulose e a hemicelulose, é mais viável o aproveitamento da primeira a qual, hidrolisada, gera a glicose, que é então fermentada a etanol.