Você já viu uma mulher grávida consumindo grandes quantidades de gordura? É bem provável que não. Mas uma pesquisa desenvolvida pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo chegou à conclusão de que a prole feminina de ratas que consumiram gordura animal durante a gestação apresentam menor risco de desenvolver câncer de mama quando adultas. Mas fica o aviso: os autores da pesquisa não querem estimular de forma alguma o consumo de gordura pelas futuras mamães, já que o consumo excessivo desse macronutrientes aumenta o risco de outras doenças crônicas.
Na década de 1990, o médico grego Dimitrios Trichopoulos questionou a possibilidade do câncer de mama em uma mulher adulta ser originado ainda durante o período fetal. Ele começou a pensar nessa possibilidade porque percebeu que mulheres que faziam tratamento com o estrogênio sintético dietilestilbestrol, para evitar o aborto, tinham filhas que, na fase adulta, desenvolviam câncer de mama com maior facilidade. Anos depois, a professora Leena Hilakivi-Clarke verificou que ratas que consumiam dieta rica em Ômega 6 durante a gestação também tinham uma prole com maior risco de desenvolver câncer de mama.
Com essas informações em mãos, e com a ajuda do pesquisador da área de câncer de mama da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP Thomas Prates Ong, a nutricionista Fábia de Oliveira Andrade desenvolveu seu doutorado com o intuito de investigar se a prole de ratas que consumiam dieta rica em gordura animal durante os períodos de gestação e lactação apresentava maior risco de desenvolver câncer de mama. A dupla esperava que sim.
Para realizar os testes para comprovar a hipótese inicial da pesquisa, Fábia separou ratos em três grupos: o primeiro, denominado grupo 1, comeu ração comum (com apenas 16% de gordura); o grupo 2 recebeu uma alimentação com 60% de lipídios, rica em banha,apenas durante a fase de gestação; e o terceiro e último grupo recebeu a mesma alimentação gordurosa, só que nos períodos de gestação e lactação. A prole feminina com 50 dias de idade foi submetida ao protocolo de indução do câncer de mama.
Os experimentos que foram realizados mostraram que, diferentemente do que a pesquisadora Fábia esperava encontrar, a prole das ratas mães expostas à dieta hiperlipídica no período de gestação apresentaram chances menores de desenvolver câncer de mama. O mesmo ocorreu também com o grupo 3, que recebeu alimentação rica em gordura animal também durante a lactação, só que em menor grau.
Mas é importante repetir o alerta do início do texto (e a autora da pesquisa, a nutricionista Fábia, fez questão de salientar isso durante nossa entrevista): os responsáveis pelo estudo não querem de forma alguma estimular o consumo de gordura por mulheres grávidas (até porque os lipídios podem causar muitas outras doenças crônicas nas mães e nos bebês). Ela disse que o ideal seria, depois dessa pesquisa, “verificar quais ácidos graxos presentes na gordura animal dada aos ratos na ração são os responsáveis por diminuir o risco de desenvolvimento de câncer de mama na prole”, explica.
Dois tipos de ácidos graxos presentes em grande quantidade na gordura animal combatem o câncer, segundo estudos já realizados e citados por Fábia: são eles o ácido esteárico e o ácido oleico. Este último é muito presente na dieta mediterrânea e, por lá, são baixos os índices de câncer de mama registrados na população local. Portanto, mulheres grávidas, nada de ingerir a gordura do bife ou aquela camada branca de lipídio do porco: com essa dieta sua filha pode não ter câncer de mama quando estiver adulta, mas a chance de você e do bebê sofrerem de outras doenças é bem grande.