O estudo sobre a cultura de um país auxilia o estudante no aprendizado de uma língua estrangeira, é o que revela a tese de mestrado de Camila Amaral Souza, que entrevistou estudantes da Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP) selecionados para o programa de intercâmbio de duplo-diploma (em que o aluno recebe o diploma da USP e de uma faculdade estrangeira).
A Poli possui o convênio de duplo-diploma mais antigo da universidade com instituições europeias. Esse convênio já contemplou mais de 400 estudantes de engenharia e é o que mais envia alunos para a França, servindo de base para a pesquisa de Souza.
Ela entrevistou alunos da graduação de engenharia antes de irem para o intercâmbio e depois de seis meses de vivência na França para identificar e analisar as representações culturais destes estudantes sobre o país estrangeiro, levando em conta sua relação com o estudo e o aprendizado da língua francesa.
"Um pressuposto da minha pesquisa é que estudar a língua é estudar outra cultura. Uma é a representação da outra, há uma relação de simbiose", disse Souza.
ESTEREÓTIPO E REPRESENTAÇÃO CULTURAL
No âmbito de sua pesquisa, é importante diferenciar representação social e cultural (passível de mudança de acordo com a vivência) de estereótipo (fixo e imutável), ambos importantes no estudo de línguas. "Quando temos uma aproximação positiva com uma cultura, temos mais facilidade de aprender a língua. É possível iniciar o aprendizado da língua pela representação da cultura do outro e usar os estereótipos para fazer um contraponto com a realidade, que nem sempre é palpável ou passível de ser ensinada em sala de aula", explicou Souza, que tem experiência em dar aulas de francês.
Esse processo foi verificado entre os estudantes da Poli entrevistados. A pesquisadora conta que a maioria deles buscava algum contato cultural, procurando aprender algo sobre os costumes franceses, mesmo que de maneira inconsciente. "Todos sabiam que não adiantava saber só a língua, eles iam em busca da história e da cultura do país. E, ao aprender a língua, acabavam assimilando aspectos culturais, enquanto liam notícias, assistiam a filmes e ouviam música francesa."
Souza disse ter sido surpreendida pela sua própria pesquisa. Em um momento inicial, ela imaginou que os estudantes teriam um grande choque cultural ao chegar na França, o que não aconteceu de maneira tão violenta, já que os alunos haviam se preparado para a nova vivência. Além disso, percebeu que seu próprio estereótipo sobre aqueles estudantes estava equivocado: "em nenhum momento eles demonstraram achar que a cultura francesa era superior a brasileira ou que precisavam ir a Europa para ter um banho cultural", como a pesquisadora previamente imaginou.
De qualquer forma, a pesquisadora acredita que seu trabalho pode ajudar professores que preparam estudantes para o processo de intercâmbio e também pode ser útil para aqueles que ensinam línguas. Ela explica que ao entender as representações culturais e os estereótipos de um país, o aluno adquire maior predisposição para aprender a língua, tornando-se um estudante autônomo. "Um maior interesse pela cultura leva a uma autonomia no aprendizado, o aluno vai por conta própria assistir a um filme ou ouvir música naquela língua e, assim, acaba aprendendo mais", conclui.