Pesquisa no campo da astrobiologia tenta entender o metabolismo de seres unicelulares - especialmente de bactérias que vivem em ambientes extremos- para auxiliar na busca de vida em outros planetas. Para isso, os estudos visam procurar produtos metabólicos que podem ser indicativos de vida – as chamadas bioassinaturas. Esses produtos, ao serem identificados, facilitam na busca de seres extraterrestres porque dão "pistas" do que pode ter sido metabolizado por um ser vivo naquele planeta. Fábio Rodrigues, professor do Instituto de Química e coordenador da pesquisa, explica que as bioassinaturas são uma forma indireta de achar vida. "Vemos como e onde vamos procurar [a vida extraterrestre] através desses sinais indiretos metabólicos", aponta.
Os seres unicelulares foram os escolhidos para o estudo por terem sido as primeiras formas de vida terrestres e por apresentarem metabolismos diversos. No primeiro momento as bactérias são bem cultivadas em condições ambientes, para depois serem expostas a condições extremas que podem simular o ambiente de outros planetas. Portanto, "se o organismo produz uma substância para se proteger dessas condições, vamos procurá-la como bioassinatura", conclui.
A pesquisa é apenas uma parte de um campo muito maior: o da astrobiologia. Apesar do nome dar a entender que a área abrange apenas a astronomia e a biologia, ela é um trabalho multidisciplinar e conjunto. "É um novo enfoque de antigas abordagens", Rodrigues explica. As abordagens em questão são as perguntas que abrem essa matéria: como a vida se origina e evolui, como ela responde às mudanças do nosso planeta e se existe vida fora da Terra. química, biologia, astronomia, geologia e paleontologia contribuem para tentar responder essas questões. A química traz grande contribuição para esses estudos, pois oferece os mecanismos para entender os processos de vida. "A ideia da minha pesquisa é dar esse enfoque químico para a Astrobiologia. E, particularmente, entender como a vida responde ao ambiente", diz o professor.
Vida em Marte
Recentemente a NASA anunciou a descoberta de água líquida em Marte – um dos princípios da vida como conhecemos – o que deu força a antiga discussão sobre a existência de vida nos planetas vizinhos. Segundo Rodrigues, a descoberta foi o primeiro passo, mas o caminho a ser percorrido ainda é longo.
Parte do percurso para entender a possibibilidade de vida extraterrestre diz respeito a compreender os limites da vida como conhecemos. Assim, e conhecendo as condições ambientes do planeta que se quer estudar, é possível pensar em vida semelhante fora de casa. O professor dá o exemplo do deserto de Atacama, "que é uma das regiões mais secas do mundo e têm bactérias que sobrevivem com quantidades muito baixas de água". Ele explica que essas podem ser mais ou menos as condições de Marte. Por isso "estamos expandindo os limites físicos e químicos da vida para que depois a gente consiga entender quais são as estratégias para que elafuncione", esclarece.
As pesquisas sobre a existência de seres extraterrestres sempre encontram uma crítica: e se a vida fora da Terra não for como a conhecemos, baseada em carbono e dependente de água? Para isso, Rodrigues ressalta: "Não conhecemos outro modelo. Então, quando se manda uma missão para Marte, que custa bilhões de dólares, não se pode mandá-la para procurar algo que não é conhecido. Tem que ser pragmático."
Com tudo isso fica claro a importância da colaboração de diversas áreas nesse assunto envolto com tantos mistérios. O trabalho desses campos de estudo pode ser, muitas vezes, envolto de dúvidas, aproximações e extrapolações. Porém, nesse longo caminho, pequenos passos são dados dia após dia. E talvez esses passos possam nos levar, no futuro, a outros planetas.