ISSN 2359-5191

26/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 101 - Sociedade - Pró-Reitoria de Pesquisa
Vírus pré-histórico tem alta ocorrência nas populações indígenas do continente americano
HTLV é cercado de desconhecimento, pouco tratado e incide mais no Brasil
Vírus. Créditos: anaemaurobioifes.files.wordpress.com

O estudo realizado por Arthur Paiva e Jorge Casseb e publicado em 2015, através do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Retrovírus, aponta que a patologia tem mais de uma origem e foi inserida na América de diferentes maneiras. Comprovou-se que a região amazônica brasileira é a maior área endêmica do mundo para a ocorrência do HTLV-2.

Resumidamente, o vírus HTLV, que pode ser de tipo 1 ou 2, atinge os linfócitos T humanos e sua transmissão se dá pelo contato sexual desprotegido, compartilhamento de seringas e de mãe para filho. Pode causar degeneração neurológica dos membros inferiores, leucemia e infecções. Ainda não há cura, pois é um retrovírus pouco conhecido (uma explicação mais detalhada pode ser encontrada aqui). "Apesar das complicações sérias ocorrem mais raramente, o HTLV é incapacitante e, às vezes, fatal. Outras manifestações como dores na coluna e na bexiga estão sendo estudadas", declarou Jorge Casseb.

A segunda forma do retrovírus pode ser subdividida em quatro tipos (a, b, c, d), e estudos moleculares confirmaram que o Brasil é o único país com a presença da variedade c nos indivíduos. Isso mostra que o HTLV-2 está na América desde os tempos antigos. Trata-se de uma moléstia ancestral porque é endêmica a grupos nativos isolados e transmitida a partir deles.

A origem do vírus linfotrópico no continente americano foi analisada e as conclusões foram: o HTLV-1 se deu pela da migração de pessoas infectadas da Ásia (cerca de 12 mil anos atrás)  através do Estreito de Bering para a América do Norte durante o Paleolítico  (assim como para o HTLV-2), pelo tráfico de escravos durante o período colonial (maior forma de propagação a não-indígenas) e, mais recentemente, pela imigração japonesa no início do século 20. A disseminação de uma e outra patologia ocorreu de forma independente, não estando, portanto, associadas.

"Especificamente para o Brasil, quando foi examinada questão da origem do vírus, um grupo de pesquisadores da Bahia mostrou que esse foi trazido da África a partir do tráfico de escravos", afirma o pesquisador. O problema também se espalhou para além dos grupos de isolamento, causando a maior incidência do mundo sobre os brasileiros: cerca de um milhão de pessoas estão infectadas.

Em relação à distribuição geográfica, o tipo 1 é encontrado em aborígines de países do Pacífico e Américas enquanto o tipo 2 está entre as populações indígenas das Américas, nas quais aparenta ser mais prevalente que o HTLV-1, e em algumas tribos da África Central.

Populações indígenas com algum tipo de HTLV na América do Sul. Créditos: Jorge Casseb.

Ambos os tipos foram encontrados nos nativos brasileiros, sendo que o HTLV-2 tem maior predominância nesses povos. A produção científica evidenciou que o vírus 2 tem uma amplitude grande nas tribos como um todo, principalmente na Amazônia, enquanto o número 1 está localizado em comunidades isoladas.

Os principais grupos étnicos identificados com o HTLV-1 no Brasil foram os Xicrin, Mekranoiti, Tiriyo e Yanomami. Já os contaminados pelo HTLV-2 foram os Kayapo, Tiriyo, Xicrin, Kraho, Arara Laranjal, Mundukuru e Guarani. A difusão vem crescendo nesses povos devido aos casais, que se infectam e transferem ao parceiro, e às mães, que passam aos bebês pela amamentação. Se essa irradiação não for impedida, a mazela virá a ser hiperendêmica.

O Censo estimou que haja pelo menos 896 mil indígenas no Brasil. Mesmo com a alta prevalência, o problema não é abordado como uma questão de saúde pública e seu tratamento é negligenciado, devido ao desconhecimento que o cerca. Os casos de HTLV deveriam ser identificados e conhecidos para traçar sua disseminação na sociedade, também é necessário haver um controle. Além disso, os grupos isolados contaminados tem de ser informados sobre a transmissão, prevenção e riscos associados ao vírus por meio de programas educacionais, assim como deve haver um aconselhamento individual.

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