ISSN 2359-5191

28/10/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 102 - Educação - Faculdade de Educação
Teatro na escola pode melhorar argumentação dos alunos
Práticas teatrais de leitura aplicadas em sala de aula são eficazes para dinamizar e otimizar o processo de ensino
Propor a encenação de textos e situações reais pode ser uma boa maneira de melhorar a argumentação dos alunos. Fonte: Escola de Atores Wolf Maia

Buscando estabelecer ligações entre teatro, leitura e educação, a pesquisadora Mei Hua Soares, da Faculdade de Educação da USP (FEUSP), escolheu como objeto de pesquisa para o seu doutorado grupos de teatro da cidade de São Paulo. Foram realizadas observações e entrevistas com as Cia. Paidéia de Teatro (Paidéia Jovem) e a Cia. Antropofágica com o objetivo de entender como se dava o processo de prática de leitura nos grupos de teatro e como isso poderia ser aproveitado em sala de aula.

Em um primeiro momento, a pesquisadora realizou um levantamento no Acervo de Fomento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, vinculado ao Programa Municipal de Fomento ao Teatro. Lá,ela fez uma leitura dos projetos aprovados de 2002 à 2010 e pré- selecionou aqueles que realizavam práticas de leitura ou ações mais pedagógicas para além dos espetáculos. Foi nessa fase que ela chegou aos dois grupos de teatro que acompanhou. Segundo Mei, “Nesses grupos de teatro, eles têm uma visão diferente da formação. E os jovens que vão pra lá são os jovens que escolheram isso”, diz Mei.

De acordo com a pesquisadora, nos núcleos jovens das companhias, ao contrário do que acontece nas escolas, o grupo todo trabalha de uma forma bastante participativa. Por exemplo, todos desempenham funções para além da encenação, trabalhando com várias etapas da produção das peças. Já a escola ainda funciona em um molde em que o aluno fica muito confinado na cadeira, o corpo participa pouco. Ele é mental e fisicamente pouco ativo.

“Eu tentei aproximar essas esferas distintas porque eu acredito nesse diálogo. Acredito que ele seja importante para “arejar” a escola”, explica a pesquisadora. Seu objetivo, e o que já procura fazer em suas aulas de português para o ensino médio e superior, é levar alguns pontos que são desenvolvidos nos grupos de teatro para a sala de aula, mesmo que com adaptações. Um exercício que ela propôs aos alunos e que deu certo foi relacionado à argumentação. A professora determinou uma situação de conflito e a turma, organizada em duplas, elaborou argumentações por escrito que depois foram encenadas para a sala. “No começo eles têm muito receio, porque ficam ansiosos e com medo de se expor. Mas, além de ser uma espécie de brincadeira entre os alunos, foi possível observar que a argumentação deles melhorou bastante.”, conta Mei.

Augusto Boal,  diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, já fazia esses jogos em que nos colocamos em cena no lugar do outro e aprendemos a lidar com suas situações. Esse método, chamado de Teatro do Oprimido, parte da encenação de uma situação real, e através da análise, troca de experiências entre atores e espectadores e intervenções diretas na ação teatral busca meios concretos para ações que possam transformar a realidade que está sendo encenada. Esse método, além de desenvolver a argumentação dos alunos, é extremamente eficaz para se trabalhar a cidadania. Para Boal, “Aquele que transforma as palavras em versos transforma-se em poeta; aquele que transforma o barro em estátua transforma-se em escultor; ao transformar as relações sociais e humanas apresentadas em uma cena de teatro, transforma-se em cidadão.”.

Segundo Mei, quando o professor aplica essas práticas que extrapolam aquele formato conteudista, a avaliação tem que ser em outra perspectiva também. O reflexo desse trabalho com jogos teatrais acontece mais adiante e é preciso um pouco de paciência. Porém, os resultados podem ser bastante satisfatórios. “Até mesmo os alunos que são pouco participativos nas atividades escolares, costumam aceitar com maior facilidade essas atividades mais dinâmicas. A gente consegue atrair alunos que, por exemplo, em uma aula de análise sintática provavelmente não participariam”, conclui.

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