O estudo da sinalização celular do fungo primitivo Blastocladiella emersonii levou à descoberta de uma proteína que ainda não havia sido caracterizada na literatura, denominada BeGC1. Classificada como receptor por captar os estímulos externos, a proteína foi apontada como produtora do GMP cíclico, o segundo sinalizador, que, no fungo unicelular estudado, é responsável pelo seu deslocamento em direção a luz. A pesquisa foi realizada por Gabriela Mól Avelar, doutora pelo Instituto de Química da USP.
O processo de sinalização celular faz parte de um sistema de transmissão de informações e de comunicação responsável pelas diversas funções celulares. Resumidamente: o estímulo externo é recebido por um receptor, que transmite a informação para o uma cascata de sinalização a qual comunica-se com o “centro de comando”, efetores celulares que geram a ação.
Localizados numa região da célula que pode ser considerada um “olho primitivo”, a proteína e o GMP cíclico formam uma espécie de rede de comunicação, que permite que o estímulo seja transmitido e a ação realizada. A BeCG1 é formada por duas partes: a rodopsina, que absorve a luz, e a parte de guanilato ciclase produz GMP cíclico. O segundo sinalizador tem a função de abrir e fechar canais celulares e esses, por sua vez, possibilitam o batimento dos cílios e o deslocamento do fungo.
Os seres escolhidos para estudo são de uma espécie primitiva e, portanto, ainda compartilham diversos genes em comum com mamíferos, incluindo a espécie humana. Os genes que determinam a produção da proteína descoberta na pesquisa são exemplos dessa semelhança, pois se assemelham a genes que desempenham funções essenciais para os pluricelulares.
Nos seres humanos, o GMP cíclico está presente em diversas células e tem funções importantes ligada a áreas como olfato e o sistema cardiovascular. Mas o que mais se assemelha com o processo realizado no fungo estudado é a parte da visão. Gabriela explica que tanto no fungo quando na visão, o segundo sinalizador serve para abrir e fechar canais. “A diferença é que nos humanos há uma série de proteínas que regulam a visão, é uma cascata de sinalização, ao contrário do fungo”.
Com a descoberta do gene que produz a nova proteína, que por sua vez produz o GMP cíclico, é possível pensar na introdução do processo nos diferentes tipos de célula. O gene pode ser inserido por meios artificiais e estimular uma ação semelhante a que ocorre no fungo. “O GMP cíclico pode abrir e fechar canais na visão, então é possível fazer isso em neurônios e gerar sinapses por meio da luz, por exemplo”, Gabriela explica. Ainda mais interessantes são as diversas possibilidades de introduzir o gene nas mais diversas células e viabilizar um caminho de controle celular por luz.