ISSN 2359-5191

13/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 109 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Estudo aborda participação feminina em movimentos sociais no mundo árabe
Desmistificadora, pesquisa revela diferentes lutas feministas que existem no Oriente Médio
(Foto: Reprodução)

Em países como Egito, Turquia e Tunísia, o movimento social de mulheres não só existe como é mais complexo e diverso do que se imagina. Essa é uma das descobertas do estudo Mulheres e islamismo: os casos do Egito e da Turquia, conduzido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) pela historiadora Cila Lima.

O objetivo da pesquisa era desconstruir a noção de que mulheres muçulmanas são passivas e alheias aos movimentos sociais. “A opressão e a falta de espaço para reivindicações é real, mas procuro mostrar que elas estão, em luta para mudar isso”, conta. Dada a importância de suas revelações, a tese se transformou em livro: Women and Islamism: the cases of Egypt and Turkey (2013), ainda não traduzido para o português. 

Revelador, o estudo de Cila mostra que o feminismo no mundo árabe nasceu no século XX, assim como em diversos países ocidentais, mas se diferenciou a partir dos anos 80 devido aos confrontos e aos diálogos com grupos de mulheres fundamentalistas. “Cada movimento traz reivindicações diferentes e podem ou não incorporar a religião dentro de suas lutas. Não há só um, mas três tipos principais de movimento social de mulheres lá”, explica.

Tendo expoentes como Huda Sha'rawi e Doria Shafiq, o feminismo secular é um desses movimentos estudados. Desassociado da religião, as reivindicações são similares às do feminismo ocidental: autonomia feminina, direito ao voto e à educação, maior participação política de mulheres e laicidade na conformação do Estado.

De acordo com a pesquisadora, quando se trata desse feminismo secular, é preciso reconhecer as diferenças entre cada país. Isso porque em cada um, ele é posto em prática de maneira diferente. Como exemplo, a especialista cita regiões como Egito e Turquia, esse último considerado pelo estudo como alguns dos mais avançados no mundo muçulmano em relação à igualdade de gênero.

“No Egito e Turquia, o feminismo é bastante forte, principalmente na Turquia, que é o país mais desenvolvido nesse sentido”, explica. “No Egito, a interferência do feminismo nas leis é muito baixa, embora o movimento seja sólido. Já na Turquia, as mulheres conseguiram progredir no código civil e penal, modificando mais de 35 leis sexistas e misóginas”.

Um ponto importante destacado pela pesquisadora é que, mesmo desassociando a religião de suas lutas, muitas feministas seculares são muçulmanas. Alguns exemplos são as ativistas Nawal El Saadawi e Fatima Mernissi. Existe, também, o que Cila denomina de feminismo islâmico. Incorporando a religião, ele propõe a reinterpretação das fontes islâmicas, como o alcorão e os ahadith, sob o ponto de vista feminista.

Entre as várias bandeiras desse movimento está a não obrigatoriedade da vestimenta islâmica. “O véu tem a característica da repressão e do patriarcalismo, sim. Porém, para as feministas islâmicas, ele pode ser também um elemento de identidade cultural, como uma escolha, não uma obrigatoriedade”, diz a pesquisadora.

Além disso, o estudo aborda o movimento social de mulheres fundamentalistas, que rejeitam o termo feminismo por representar a cultura ocidental. No entanto, o movimento traz contribuições na medida em que suas integrantes possuem alguma participação entre grupos islamistas moderados.

“Essas mulheres vão às ruas, participam de movimentos sociais, mas não lutam por igualdade de gênero ou autonomia”, conta a especialista. “A participação dessas mulheres nos movimentos sociais fundamentalistas contribui para que participem dos espaços públicos, mas as poucas reivindicações de emancipação ficam entre elas, não chegando às estruturas políticas ou familiares”, diz.

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