ISSN 2359-5191

24/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 115 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Composição química de fóssil traz novas suposições para evolução de biominerais
Estudo avalia influência da carapaça de Cloudina na radiação de vida no Cambriano

Paleontólogos do Instituto de Geociências da USP e da Universidade Federal de São Carlos obtiveram novas informações sobre um dos fósseis mais emblemáticos do final do Período Ediacarano (que durou entre 635 e 541 milhões de anos). Este fóssil, chamado Cloudina, representa um dos primeiros animais do registro geológico com esqueleto mineralizado.

Bruno Becker pesquisou quais biominerais formavam a concha de Cloudina, assim como relações ecológicas, taxonomia e modo de preservação. Os fósseis foram coletados em Corumbá, Mato Grosso do Sul e suas análises compõem a dissertação de mestrado do pesquisador no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo sob a orientação da professora Juliana de Moraes Leme (IGc-USP).

Através de análises geoquímicas, como fluorescência de raios-x, espectroscopia de raios-X por dispersão de energia e espectroscopia Raman foi possível concluir que a concha de Cloudina era formada por calcita, um polimorfo do carbonato de cálcio (CaCO3).  

Importância evolutiva

Segundo o pesquisador, a composição química do organismo pode estar relacionada aos microelementos encontrados nos oceanos. Ao longo do tempo geológico, os níveis de magnésio e cálcio na composição química dos oceanos foram modificados ciclicamente. Estudos apontam que a razão desses elementos influenciou os tipos de biominerais que evoluíram em determinados organismos. "Se Cloudina de fato possuía uma concha de calcita, outros fatores que não apenas a química dos oceanos influenciaram a linhagem dos organismos. Sendo assim, estes dados mostram que a história evolutiva das partes biomineralizadas é mais complexa do que se pensa."

Por falar em evolução, as evidências de predação em Cloudina, antes conhecidas apenas para a China e Namíbia, fortalecem a hipótese de que o aparecimento de predadores no final do Ediacarano contribuiu para a grande radiação do Cambriano, também conhecida como a “explosão do Cambriano”. Este evento evolutivo foi caracterizado por um rápido aparecimento de diversas formas de animais no registro fóssil, um enigma que também perturbou a mente de Charles Darwin. A co-evolução entre predadores e presas desencadeou novas relações ecológicas, assim como influenciou o surgimento de sistemas de defesa, entre eles o aparecimento das primeiras conchas.

O pesquisador decidiu trabalhar com paleontologia desde o trabalho de conclusão de curso. A escolha pelo fóssil de Cloudina foi simples. Apesar de pouco conhecido fora da academia, o Ediacarano é um período de grande importância para estudos evolutivos sobre a origem e diversificação dos animais. "Embora a quantidade de publicações internacionais sobre o período venha crescendo, no Brasil, esta linha de pesquisa ainda é incipiente. Todavia, existe um grande potencial para importantes descobertas dada as diversas formações geológicas que possuímos”, conclui Becker.

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