ISSN 2359-5191

04/12/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 123 - Meio Ambiente - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Estudo associa construção de hidrelétricas em Rondônia à incidência de dengue
Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira trouxe crescimento para o estado, mas também sérios impactos sociais, segundo pesquisador da USP
Foto: Reprodução

Composto pelas usinas Jirau e Santo Antônio, entre as dez maiores do país, o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira é um importante projeto de infraestrutura da região Norte. Mas também uma das causas de incidência de dengue em cidades como Porto Velho, segundo Daniel Delani, pesquisador da USP.

Em seu mestrado, Meio técnico e epidemiologia: as hidrelétricas e a difusão da dengue no complexo do Rio Madeira, Daniel analisou os casos de dengue registrados na capital de Rondônia durante o período de 2001 a 2012, articulando a incidência da doença às transformações provocadas pela construção do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira.

A pesquisa foi embasada em dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), cujo último levantamento foi em 2012. De lá para cá, segundo o pesquisador, o Portal da Saúde do Ministério da Saúde aponta que a incidência de dengue em Porto Velho encontra-se estável.

No entanto, em função das características propícias da região, o Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), divulgado em março de 2015, mantém a cidade em situação de alerta.

No estado, 15 municípios encontram-se em situação de risco. Para Delani, isso mostra a fragilidade do sistema frente a uma nova epidemia e que poucas medidas eficazes foram tomadas para combater o problema, que deve se agravar com o aumento da temperatura. 

Impactos da construção do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira

A respeito dos impactos causados pela construção do Complexo, Daniel Delani ressalta que houve um esforço do poder público para minimizá-los. Conscientização dos moradores a respeito da dengue e reformas em unidades de saúde são algumas deles. No entanto, tais medidas compensatórias vieram tardiamente.

“Com a chegada de cerca 50 mil pessoas em poucos meses, desde do início do projeto, os problemas que já existiam foram maximizados, assim como surgiram novos”, afirma. “Não houve um preparo do município para uma obra desse porte”.

Segundo ele, o Complexo também trouxe impactos culturais. Isso porque, por conta do empreendimento, populações ribeirinhas de distritos como Mutum-Paraná abandonaram seus lares para dar lugar à construção, o que causou mudanças radicais no modo de vida desses moradores.

“É comovente conversar com famílias ribeirinhas. Apesar de terem sido realocadas para casas de alvenaria, a dificuldade de adaptação foi enorme”, desabafa. “Para elas, nada substitui o que foi perdido: o sentimento de lar, o contato com a natureza e as suas histórias”.

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