ISSN 2359-5191

19/04/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 07 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
“A mídia ainda não sabe quem foi Lampião”, diz Aymoré, mestre pela USP

São Paulo (AUN - USP) - O cangaceiro Lampião ainda é um grande desconhecido da imprensa brasileira, mesmo após praticamente quatro décadas de seus feitos. Esta é uma das conclusões a que chegou Artur Aymoré em seu ensaio O Outro Olho de Lampião, baseado em sua dissertação de mestrado finalizada em 2005. Sob orientação do docente Boris Kossoy da ECA-USP, a pesquisa levou três anos até ser finalizada e desvendar as formas pelas quais a mídia escrita construiu a imagem mítica do personagem histórico.

Aymoré explica que a maneira de encarar e julgar o cangaceiro mais famoso de que se tem notícia era diferente em cada publicação jornalística, dependendo da região do país à qual o jornal ou a revista pertencia. Sendo assim, duas imagens principais e antagônicas foram construídas no Brasil. “A imprensa nordestina sempre tratou Lampião como um facínora, um assassino, por causa da influência direta exercida pelos coronéis. Já na imprensa do Sudeste, as matérias se referiam a ele como um herói, fruto das péssimas condições sociais conseqüentes do coronelismo da época”, elucida o autor.

Segundo o pesquisador, ambas as imagens retratadas pela mídia estavam equivocadas. “Virgulino Ferreira (nome real de Lampião) era um homem sem uma bandeira ideológica e política, extremamente religioso e apaixonado por Maria Bonita”, diz o paraense. Ele conta que o cangaceiro era tão transparente em relação a suas atitudes, que chegou a avisar o ex-marido de sua amada sobre seus planos de fugir com ela. “Mas a mídia, de uma forma ou de outra, fez uma distorção desse traço da personalidade de Lampião”, completa.

Mestre pela ECA-USP, Aymoré estudou para a produção da pesquisa o acervo dos jornais pernambucanos Diário de Pernambuco e Jornal do Comércio; os baianos A Tarde e Diário de Notícias; os fluminenses Gazeta de Notícias, Noite Ilustrada, O Globo e Jornal do Brasil; e os paulistas O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. As revistas O Cruzeiro, Manchete e Fatos e Fotostambém foram consultadas.

Todos as matérias usadas para a análise foram publicadas entre os anos de 1922 e 1972. A partir delas, o pesquisador constatou que a própria linguagem empregada pelos repórteres e redatores de cada publicação era um fator de influência no retrato criado sobre o cangaceiro. ”A linguagem é tudo”, explica Aymoré, citando o renomado escritor brasileiro João Guimarães Rosa, “através dela, você constrói mitos, destrói reputações e mexe com o imaginário das pessoas. O caso que estudei é um exemplo evidente disso”.

O cangaço é tema recorrente na produção cultural brasileira. Há mais de 180 livros e ensaios publicados sobre o assunto, além da extensa filmografia que contém um número superior a 50 filmes. Segundo Aymoré, o retrato mais famoso dos cangaceiros “talvez seja aquele feito por Guimarães Rosa no Grande Sertão: Veredas”, clássico da literatura nacional.

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