São Paulo (AUN - USP) - O ramo da química ambiental está estudando a nocividade dos combustíveis ao meio ambiente por meio de uma análise holística de sua produção, e não apenas pelos resíduos que emite (geralmente gás carbônico, enxofre) quando é aplicado. Os pesquisadores atestam que, para descobrir se um combustível é “limpo”, devemos estudá-lo desde sua extração até a produção, uso e, possivelmente, sua reciclagem.

No caso do biodiesel, por exemplo, essa metodologia de estudo funciona com a observação do consumo de energia, materiais, e da emissão de gases no plantio do vegetal, na colheita, na produção industrial do combustível e no momento de seu consumo.

O governo federal vem dando grande incentivo às pesquisas e à produção do biodiesel. Ele é um combustível renovável, cujas matérias-primas (das quais são extraídos álcool e óleo vegetal) podem ser plantadas ao longo dos vários quilômetros de extensão do território nacional. Além disso, o gás emitido em sua combustão (CO2) será reaproveitado pela fotossíntese dos vegetais que futuramente também serão usados para sua produção.

O professor Reinaldo Camino Bazito, do Departamento de Química da USP, explica que o biodiesel, na verdade, emite mais do que o CO2 que realimentará seu ciclo, pois o caminhão que transportou a soja do local de colheita até a indústria para sua transformação foi abastecido com diesel, um combustível não-renovável que tem como subproduto o gás carbônico e o enxofre, sendo este último um dos responsáveis pela chuva ácida.

A matéria orgânica remanescente da colheita, por sua vez, pode ser degradada por microorganismos anaeróbicos (que não utilizam gás oxigênio na respiração), o que resulta na produção de metano, um dos gases estufa. Sendo assim, a avaliação real e precisa do impacto ambiental de um combustível deve levar em conta os mínimos detalhes de seu processo de obtenção. Uma vez detectadas as etapas de emissão de poluentes, pode-se encontrar uma solução para eles. “É uma operação extremamente complexa, precisamos de gente capacitada pra fazer”, conclui o professor.

A primeira Escola de Verão em Química Verde, ocorrida em janeiro no Instituto de Química, apresentou essa metodologia aos graduandos. Os alunos fizeram uma síntese de biodiesel em laboratório, observando todos os gastos envolvidos no processo: a quantidade de solvente orgânico usado, de água, energia e de diversos outros fatores.