A uva é certamente uma das frutas mais consumidas pelo homem. Já percebeu quanta gente consome um de seus subprodutos, o vinho? Segundo o IBGE, são utilizados, todos os anos, 1,5 milhões de toneladas de uva. Desse total, 42% vira vinho - 10% desse montante é semente e, desta quantidade de semente, 15% é óleo. Pensando nesses números e nesse lixo gerado pela uva, a engenheira de alimentos Fernanda Shinagawa, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF), foi investigar os efeitos do óleo extraído da semente da uva.
Atualmente, os resíduos gerados pela produção de vinho vão para indústrias que produzem ração animal. Mas Fernanda descobriu que o óleo da semente de uva possui uma característica semelhante a uma gordura que usamos muito no nosso dia a dia: o óleo de soja. Os dois tipos de óleo possuem uma considerável atividade antioxidativa. Essa característica é relevante porque retarda o envelhecimento de nossas células e, por isso, ajuda na prevenção de muitas doenças crônicas como diabetes, obesidade, entre outras.
Além disso, o óleo da semente de uva possui altas taxas de ácidos graxos insaturados (ômega 6), e fitosteróis (responsáveis pela menor absorção de gordura no organismo), vitamina E e fenólicos (estes dois últimos apresentam ação antioxidante).
Para verificar os efeitos desse óleo de uva no organismo humano, Fernanda fez testes utilizando ratos. O principal objetivo da farmacêutica foi verificar se o consumo dessa gordura não poderia causar males à saúde dos animais. Ela administrou grandes quantidades de óleo (maiores do que as que o homem consumiria proporcionalmente) aos ratos - segundo a pesquisadora, esse procedimento é comum pra verificar, por exemplo, a toxicidade do produto testado.
Apesar de ter a importante característica antioxidativa, o óleo, como diz o próprio nome, é uma gordura – e, por isso, os ratos engordaram um pouco com o consumo do produto. Fernanda quis descobrir então se o óleo também estava causando alterações nos parâmetros bioquímicos do organismo dos ratos, mas não houve aumento de enzimas inflamatórias (algo que está relacionado ao ganho de peso), nem alterações do fígado (que é o órgão responsável pela metabolização da gordura em nosso organismo).
Esses resultados com ratos mostram, portanto, que o óleo da semente da uva não alterou os principais parâmetros inflamatórios e oxidativos e, com isso, não causaria os males normalmente gerados pelo consumo de gorduras saturadas. Além disso, transforma um resíduo, a semente da uva, que seria jogado no lixo, em um produto com alto valor agregado. "Certamente é de interesse dos produtores de vinho ter uma prensa para extrair o óleo da semente de uva e ganhar dinheiro, agregando valor a algo que, hoje, é descartado. Isso é sustentabilidade."