São Paulo (AUN - USP) - Tem sido crescente o número de negros desempenhando papéis de status nas telenovelas, como o psiquiatra interpretado por Norton Nascimento na Globo, em detrimento dos personagens-clichê de empregada doméstica e motorista particular.
Se de um lado, essas mudanças contribuem para diminuir o preconceito no país, de outro, criam e exportam para o resto do mundo a imagem de uma sociedade democrática. E esta não é a nossa realidade segundo afirmou o professor de Antropologia João Baptista Borges Pereira no seminário “Comunicação de Massa e relações inter-raciais”.
Ele ressaltou que ainda é necessário ampliar mais o diálogo sobre o preconceito em relação ao negro e sua integração social, apesar de a “conspiração do silêncio” - expressão que utilizou para se referir à marginalização do tema - ter sido substituída pelo interesse permanente na mídia e na Academia. Para tanto, têm sido fundamentais os programas de conscientização e convencimento encabeçados pelos movimentos politizados.
Outro ponto discutido no evento promovido pelo Departamento de Sociologia da USP foi o projeto de lei do deputado Paulo Paim, do PT-RS, que estabelece cotas mínimas de negros nas grades televisivas. Na publicidade, eles deveriam preencher 40% das vagas e nas telenovelas, 25%. Para o expositor, a questão é polêmica, pois não basta compor os quadros. “A dramaturgia deve, sobretudo, reconhecer o trabalho de atores talentosos e aproveitá-los em suas tramas independentemente da raça”.
No cinema, diferentemente da televisão, há tempos o negro ocupa posição de destaque nas áreas de produção, direção e atuação. Um exemplo digno de ser lembrado é o ator Grande Othelo.
Já no rádio, a situação tornou-se favorável à raça apenas a partir da explosão da rádio-publicitária. A democratização da cultura foi fruto da percepção mercadológica de que essa parcela da população, 46%, poderia gerar lucros. Segundo o antropólogo, que escreveu o livro “Cor, profissão e mobilidade – o negro e o rádio em São Paulo” na década de 50, até então não havia sequer um negro como diretor de programação ou locutor, embora a “voz racial” fosse uma das mais requisitadas. Freqüentemente, atores de rádio-novela eram treinados para alcançarem este timbre, considerado primitivo e forte.
João Baptista Borges Pereira fez questão de explicitar que o fundamental não é o negro ocupar cargos de destaque nos meios de comunicação, mas sim ele se comprometer com a negritude. “A sua presença na mídia tem a função de alimentar a auto-imagem da raça. Pelé, por exemplo, foi um dos que mostrou a todo o país até onde o negro pode chegar, embora nunca tenha feito nada objetivamente pelo movimento de conscientização”. Mas, acima de tudo, o professor defendeu a idéia de que o negro deve vencer as barreiras de formação de guetos para multiplicar o diálogo universal e democrático de promoção social de todas as raças a um nível de igualdade.
O próximo seminário, intitulado "A Produção Acadêmica sobre a População Negra: de Silvio Romero a Donald Pierson", será ministrado pela Profa. Dra. Lilia Katri Moritz Schwarcz, do Departamento de Antropologia da USP. O evento acontece no dia 11 de maio de 2001, das 10 às 12 horas, na sala 08 do prédio de filosofia/ciências sociais da Cidade Universitária, São Paulo - SP.