São Paulo (AUN - USP) - Bruno, quatro anos, freqüenta o Labrimp (Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos) na Faculdade de Educação da USP desde bebê. Na brinquedoteca, uma área que abriga desde uma pequena mesa de pebolim até fantasias, ele pode se divertir à vontade com seus coleguinhas e soltar a imaginação. Passam horas brincando livremente, enquanto os estudantes observam e colhem dados, que serão discutidos mais tarde pela professora Alessandra Pimentel, pós-graduanda da mesma faculdade, que dá as “instruções” pedagógicas para o desenvolvimento da atividade.
Nesse pequeno parque de diversões, Bruno e as outras crianças, diferentemente do que ocorre na maioria das escolas primárias tradicionais, têm livre escolha sobre aquilo que querem fazer. Os estudantes bolsistas aparecem como observadores ou parceiros de brincadeira. Dessa forma, os que se divertem desenvolvem a criatividade e a capacidade de atribuir significado. Os que trabalham adquirem as habilidades essenciais a um educador, tanto em questionamentos teóricos, como para solucionar problemas com agilidade, criar situações novas e possuir autonomia para conduzir o estudo.
Segundo Alessandra, essa liberdade no brincar também é importante na medida em que a ‘brincadeira imposta’ não é vista pela criança como brincadeira, mas como uma obrigação a ser cumprida. Quando se vê nessa situação, ela tenta parar o jogo ou mudar o seu rumo. Nesse ponto, cuidado, educadores! Isso não significa que o brincar livre deva ser adotado exclusivamente e sem nenhum objetivo. Ele deve ter função pedagógica.
Inclusive a tese que Alessandra defenderá relaciona-se à tentativa de buscar um “equilíbrio entre a função lúdica e a função pedagógica do brincar, quando se pensa em escolarização”. Se o equilíbrio é alcançado, o brincar promove na criança o desenvolvimento social, afetivo, psicomotor e cognitivo. Por exemplo, em crianças como Bruno, na faixa etária de até seis anos, o brincar livre pode ser bastante explorado, visando aos fatores de desenvolvimento característicos nessa idade.
Porém, outra precaução deve ser tomada: não se deve confundir o brincar livre com deixar a criança ‘solta’ nem reservar tempos específicos para a brincadeira. Se isso ocorrer, ele pode ser tomado como uma premiação e os resultados serão negativos.
Um fato importante, que deriva do brincar livre e que foi notado nas crianças que estão há mais tempo no Labrimp, é a ousadia em tentar experimentar o que se pode ou não fazer. Mesmo que o lugar privilegie o brincar livre, existem regras de conduta. “Considero importante que a instituição Labrimp possa ser testada em seu esquema de regras”. Alessandra acrescentou também que isso promove mudanças positivas quando bem aproveitadas as situações em que ocorre.
Enquanto Bruno não tem noção de nada disso e apenas se diverte com seus amiguinhos, os bolsistas observaram que, como as crianças se sentem mais familiarizadas, passam a ser mais ativas e falantes do que no início, mostrando que o brincar é importante não apenas pelo brincar. Mas no sentido de “promover uma melhoria nas relações entre as crianças, na capacidade de inventar e no desejo de ultrapassar limites”.