São Paulo (AUN - USP) - A censura no teatro paulista é objeto do projeto de Pesquisa A Censura em Cena – O Arquivo Miroel Silveira, da Escola de Comunicações e Artes, que analisa o teatro, a sociedade, os interditos textuais e a censura, a partir de mais de 6.000 processos de censura teatral o Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo, organizados no chamado Arquivo Miroel Silveira. Dividido em quatro eixos temáticos, o projeto já publicou dois livros com os resultados unificados da pesquisa: A Censura em Cena e Censura e Comunicação: o circo-teatro na produção cultural paulista de 1930 a 1970.
A coordenadora do projeto, professora Maria Cristina Castilho Costa, acredita que a pesquisa ganha enorme importância a partir do momento em que analisa cientificamente os documentos concedidos à biblioteca da ECA, ao invés de apenas lançar sobre os processos um olhar burocrático. Essa análise científica permite ver muito além do que o que está escrito no papel, e cada eixo temático se encarrega de uma das faces da pesquisa, faces essas que se complementam.
O eixo “A Censura em Cena - organização e análise dos Processos de Censura Teatral do Departamento de Diversões Públicas do Estado de São Paulo – DDP-SP, entre os anos de 1927 e 1968”, é responsável pela organização dos arquivos de processos e também pela sua digitalização, para composição de um arquivo virtual de acesso via Internet. Além dessa parte mais burocrática, o eixo faz um estudo também da censura, como forma de ação política e também social.
A professora Mayra Rodrigues Gomes coordena o segundo eixo do projeto, “O Poder e Fala na Cena Paulista”, que trabalha com as peças liberadas com trechos, expressões ou palavras censuradas. A pesquisa supõe que a partir do estudo desses termos, é possível apreender as formações discursivas em cima das quais se formam as plataformas sobre a qual nos locomovemos e também as relações de poder da sociedade.
“Na Cena Paulista: O Amador” é o terceiro eixo temático de pesquisa do projeto, que estuda, sob coordenação da professora Roseli Figaro, a partir dos processos do Arquivo Miroel, o teatro amador em São Paulo, em três de suas vertentes: os grupos filodramáticos ligados a sindicatos operários, os grupos formados por associações de imigrantes (desenvolvidos principalmente nos anos 1930 e 1940) e o teatro de aspirantes à carreira profissional, organizado nos anos de 1950 pelas universidades e escolas de artes dramáticas.
Por fim, o eixo “Do Palco Para as Telas”, coordenado pela professora Maria Cristina, reconstrói a cena social da cidade no período em que foram feitos os documentos, e faz um levantamento dos nomes que aparecem no arquivo e os rumos que tomaram após a participação nas peças analisadas. Muitos dos atores ali presentes tornaram-se consagrados no país, migrando para o meio televisivo, enquanto autores ganharam renome e são reconhecidos hoje em dia.
No site do projeto (www.eca.usp.br/censuraemcena), é possível acessar o arquivo de processos digitalizados e alguns resultados da pesquisa. A página está passando por reformas e, no começo de abril, disponibilizará cada um dos eixos temáticos, com seus métodos e resultados para o público. O projeto tem apoio da FAPESP, que concede bolsas de iniciação científica a estudantes que trabalham nas pesquisas.