ISSN 2359-5191

12/05/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 56 - Meio Ambiente - Instituto de Geociências
Restinga de Maçambaba no Rio de Janeiro é alvo de pesquisa geológica
Clima local, sistema de ventos e de formação de dunas foram investigados
Porção da Restinga de Maçambaba, no Rio de Janeiro. Fonte: Reprodução.

Abrangendo as cidades de Saquarema, Araruama e Arraial do Cabo, no Estado do Rio de Janeiro, a restinga de Maçambaba é uma área de grande interesse turístico e geológico que possui cerca de 48 quilômetros de extensão. A praia, que acolhe grande variedade de lagoas — inclusive a maior delas, laguna de Araruama —, sofre a ação de ventos que sopram em duas diferentes direções. Isso influencia diversos fatores relacionados à formação das dunas, que têm forte presença na região, e até mesmo ao clima local. Com o intuito de investigar como todos esses elementos naturais e geológicos se relacionam, a pesquisadora Helena Andrade, do Instituto de Geociências (IGc), realizou seu trabalho de mestrado.


Localização da área investigada na pesquisa. Fonte: Helena Andrade.


Sob a orientação do professor Paulo Giannini, Helena realizou três trabalhos de campo em pontos de difícil acesso na região. “As estradas que levam às dunas são precárias e a amostragem foi feita em trincheiras profundas de areia inconsolidada”, afirma a pesquisadora. Nos campos realizados, ela coletou amostras de material da praia e da restinga para, posteriormente, serem analisadas em laboratórios do IGc. Helena executou, entre outros procedimentos, a análise sedimentológica e mineralógica, e também a datação por meio de uma técnica denominada LOE (Luminescência Opticamente Estimulada).

Formação singular

A costa da praia de Maçambaba possui caráter especial por ter orientação no sentido Leste-Oeste, diferentemente do restante do litoral brasileiro, que é caracterizado por linhas de costa com sentido Sudoeste-Nordeste ou Norte-Sul. Por isso, e pelo fato da Serra do Mar não estar presente nessa região, os ventos que vêm de Nordeste e aqueles que vêm de Sudoeste conseguem atuar no local e provocar diferentes consequências. Helena buscou, então, entender essas atividades e o que às controla.

Os ventos que chegam da direção sudoeste são denominados “de tempestade”, e são responsáveis por formar as dunas que migram na direção Nordeste. Além disso, eles geram grandes ondas que promovem o processo de sobrelavagem, que é a jogada de sedimentos do mar sobre as dunas frontais, ou seja, sobre o continente. Essas ondas enormes são o que torna a praia alvo de surfistas do Brasil todo.

Já os ventos que vêm de Nordeste com direção a Maçambaba geram as dunas que migram no sentido contrário (Sudoeste). São responsáveis por moldar a borda Sul da laguna de Araruama, e também pela circulação e dinâmica dessa laguna. Essa dinâmica é que provoca, em partes da laguna, a erosão de sedimentos que, posteriormente, vêm a formar as dunas rumo a Sudoeste.

Esse mesmo sistema eólico que chega de Nordeste também tem relação com a constituição climática do local. O vento de Nordeste é o responsável pela ressurgência, um fenômeno oceanográfico atuante na região que consiste no movimento vertical da água induzido pelo movimento horizontal de massas de água gerado por correntes de vento. A ressurgência, que ocorre de maneira mais acentuada durante o verão, causa, então, a ascensão de águas subsuperficiais, que são geralmente ricas em nutrientes, às camadas de superfície do mar. Essas águas trazidas à costa são mais frias e, devido a isso, evaporam menos, o que causa uma menor precipitação e, consequentemente, a aridificação do clima local.

Helena fez a comparação entre a idade das dunas que migram para sudoeste, obtidas através do método LOE, e idade das formações carbonáticas presentes em pequenas lagunas assoreadas, encontrada pela técnica de carbono 14. Ela constatou que existe relação entre ambas: “Pelo menos nos últimos 2.600 anos a região tem passado por um processo de aridificação do clima, e a ressurgência pode, sim, ter se intensificado nesse período”. Esse resultado confirma, portanto, a ligação existente entre o fenômeno ocorrente na região de Maçambaba, a formação das dunas rumo a sudoeste e o clima local.

Em sua pesquisa, Helena também caracterizou a morfodinâmica da praia e a morfologia das dunas frontais da região. À oeste, elas são mais baixas e contínuas, e já as dunas à leste, são mais altas e interrompidas por blowouts, que consistem em zonas rebaixadas (erosivas) geradas pela remoção de areia pelo vento. À respeito da morfodinâmica da praia, a pesquisadora verificou que à oeste ela se define como refletiva, ou seja, possui maiores declividade, tamanho de grãos e incidência de onda sobre a face da praia, entre outras características. Já à leste a praia caracteriza-se por ser mais dissipativa, e por isso, possui grãos mais finos e também menor ocorrência de ondas, além de uma declividade menor de sua costa.

Resultados ajudam a população

Todos esses resultados encontrados pela pesquisadora contribuem para o entendimento da dinâmica climática e geológica da região de Maçambaba. Isso colabora, principalmente, para a gestão de povoamento da restinga, uma vez que ali são construídos imóveis e estradas em grande número. Assim, com o acesso a essas informações, tanto a população local quanto os órgãos governantes podem gerir suas ações de ocupação de maneira mais consciente, tomando os devidos cuidados com áreas de erosão ou deposição de sedimentos.

Além disso, na região há a forte presença de atividades comerciais como a pesca e a extração de sal, por estas serem beneficiadas pelo fenômeno da ressurgência, que gera maior produtividade ao ambiente e aridez ao clima, o que favorece a concentração de sal na costa. Assim sendo, a pesquisa desenvolvida por Helena ganha destaque por investigar e desvendar fatores determinantes relacionados a todas essas questões.


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