ISSN 2359-5191

03/05/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 13 - Sociedade - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Coletânea de textos discute o cinema como documentação histórica
Publicação recentemente lançada por professores da USP faz análise sobre a representação do passado nas narrativas cinematográficas

São Paulo (AUN - USP) - O cinema freqüentemente utiliza fatos históricos como base de sua produção. O livro recém-lançado História e Cinema tem como objeto de estudo exatamente esta relação proposta entre a documentação do passado e a forma que os filmes têm de narrá-lo. A publicação consiste em uma coletânea de textos organizada por Eduardo Morettin, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA), e Maria Helena Capelato, Marcos Napolitano e Elias Tomé Saliba, professores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

Segundo Morettin, o livro busca, principalmente, alargar a visão teórica sobre a relação do cinema e da história, além de dar oportunidade para que as pessoas ainda iniciantes neste ramo de pesquisa manifestem seu próprio ponto de vista. “Há mestrandos e doutorandos com trabalhos presentes na coletânea que ajudaram a destrinchar alguns aspectos do nosso estudo”, diz ele.

Apesar de haver textos de muitos autores diferentes e com especialidades diversas, existe um ponto de concordância entre eles: todas as análises tendem a se opor à visão do filósofo e historiador francês Marc Ferro. O professor da ECA explica que Ferro defende a idéia de que o historiador, ao trabalhar com o cinema, deve se ancorar em outras ciências, como a semiologia, a história da arte, a análise crítica. Contudo, o teórico não chega a incorporar a questão da necessidade de uma metodologia de trabalho para se estudar os filmes. “Para se ter o filme como imagem efetiva de uma época, é preciso entender como a narrativa se coloca, as opções que ele faz”, esclarece Morettin.

A coletânea procura contrapor também a afirmação de alguns teóricos de que a arte do cinema deve se submeter à história. “É preciso ficar claro para o público que o que eles assistem é uma visão do passado, o que não está necessariamente ligado com o pensamento de que o cinema deturpa a realidade. É apenas um recorte pessoal”, explica o professor. Segundo ele, mesmo nos documentários – que, teoricamente, devem ter maior veracidade – há uma subjetividade e opinião particular de seus autores.

Como os organizadores escreveram na introdução do livro, há duas dimensões que são consideradas em todos os textos. “A primeira diz respeito às linguagens, técnicas e estilos que marcam o cinema como área de expressão artística”, enquanto a segunda envolve “o aspecto iconográfico e ideológico da análise, ou seja, de que modo o cinema dialoga com outros suportes de veiculação de imagem”, registram os selecionadores.

A pesquisa para o livro se iniciou com um Congresso Regional de História ocorrido na cidade de Campinas, em 2004. “Toda coletânea é conseqüência de um longo processo de seminários, pesquisas e simpósios feitos por muitas pessoas que se debruçaram sobre o tema”, explica Morettin. Ou seja, foram os trabalhos apresentados nestes simpósios que deram origem aos textos presentes em História e Cinema.

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