ISSN 2359-5191

07/05/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 14 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Ciência da comunicação é questionada pelo caos da transmissão de informações

São Paulo (AUN - USP) - O conhecimento obtido com os estudos da comunicação tende a ser demandado pelo mercado, enquanto outras ciências humanas, como a antropologia e a sociologia, têm seus resultados de pesquisas como objetos de interesse do Estado, segundo Muniz Sodré, comunicólogo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele afirmou que isso ocorre com a comunicação por ela ter como seu principal objeto de estudo a midiatização da sociedade, fator de interesse dos grandes grupos de mídia.

Essa observação se insere no contexto da epistemologia (estudo voltado para si próprio) da comunicação, e sua controversa transformação em ciência, assuntos dos quais Sodré tratou no dia 29 de março, na aula inaugural do Programa de Pós Graduação em Comunicação da ECA. Para dar início às exposições que constituirão formação dos alunos da pós, ele falou sobre o funcionamento da ciência da comunicação e das suas principais dificuldades.

Vendo comunicação como um processo operacional de transmissão de informações, ele indaga se os estudos nessa área tornam-se impossíveis devido ao estado caótico em que se encontra o processo de transmissão de informação, caos esse gerado pela velocidade em que ocorre o processo. As pessoas não conseguem mais fazer representações mentais das informações que recebem, pois, como afirmou Sodré, “o futuro parece equivaler ao passado”. Existe um frenesi da presença constante da rede e, cada vez mais, torna-se difícil conceber a realização de atividades que não tenham ligações com outras e que sejam de longa duração, pois está tudo conectado pela rede.

Nesse fluxo de informação em extrema velocidade, a sociedade é controlada retoricamente por um novo discurso, gerado pela vontade de potência tecnológica, que prega a necessidade de se informar de tudo, daquilo que ocorre o tempo todo e em todos os lugares. Por isso exige o uso de todas as facetas que a mídia possui, seja a internet, televisão, mídia impressa ou rádio. Isso faz com que a todo tempo as percepções e representações dos indivíduos sejam afetadas, inclusive politicamente. Uma das principais conseqüências desse fenômeno, citada por Muniz Sodré, é a neutralização dos vínculos comunitários. Para ele, as pessoas fixam-se nas tecnologias e obtenção de informação e o relacionamento humano, criador desses vínculos, acaba ficando em segundo plano.

Apesar de considerar a internet um possível instrumento para estreitar os vínculos comunitários, através dos diversos meios de interação que ela proporciona, ele não vê um uso dela nesse sentido, pois a interação virtual ocorre de forma a não ser possível existir confiança na verdade do que o outro diz e, por isso mesmo, torna inviável a criação de vínculos.

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