São Paulo (AUN - USP) - “Eu não tenho nada contra o sensacionalismo. Somente contra o mau uso que é feito dele.”, afirmou Manuel Carlos Chaparro, professor da pós-graduação em Redação Jornalística da ECA-USP. Ele acredita que tudo no jornalismo é baseado no sensacionalismo, na exploração do sensacional, daquilo que atrai o interesse, mas que isso deve ser pautado na honestidade intelectual. O título, por exemplo, é um recurso sensacionalista que destaca, com uso de fonte diferente e palavras mais selecionadas, aquilo que merece maior atenção no texto, mas no qual deve-se buscar uma informação que realmente mereça destaque e não apenas algo para que a leitura seja estimulada.
Ele acredita também que o trabalho dos jornalistas é construído sobre cenários: eles podem agir de modo a construir e manter os cenários, ou trabalhar para destruí-los, mostrando a realidade dos fatos. Assim como no caso do sensacionalismo, é individual a decisão de como agir. Em um sentido de ação ou em outro, no entanto, o jornalista lança mão de relatos e comentários, que são para o professor os dois únicos gêneros do jornalismo.
Chaparro falou aos estudantes de Jornalismo da ECA-USP na segunda-feira, 10 de abril, a convite da professora Nancy Ramadan. Ele afirmou que aquilo que o jornalismo traz é aceito como verdade por um pressuposto estabelecido, o que acarreta enorme privilégio, mas também grande responsabilidade para os profissionais da área.
Principalmente hoje em dia, quando o jornalismo passa por aquela que Chaparro considera ser sua quarta grande revolução. A primeira ocorreu com a criação do telégrafo, quando a notícia passou a ter maior alcance; a segunda foi com a criação da rotativa, que fez com que a força da notícia fosse ainda maior; a terceira foi a revolução da reportagem, quando as pessoas passaram a exigir maiores detalhes sobre as informações que recebem. Agora ocorre uma nova revolução tecnológica, com a internet permitindo maior acesso à informação e gerando a possibilidade individual de dizer, mesmo que não haja um público para ouvir, ou ler, aquilo que é dito, ao mesmo tempo em que a demanda por informação cresce sem parar.
Para que os profissionais possam lidar corretamente com isso, Chaparro acredita que o curso de jornalismo deve sofrer uma melhora em seu conteúdo teórico. Ele vê as aulas de atualmente como extremamente filosóficas e acredita que deveriam ser mais voltadas para aplicações práticas. Citou o exemplo da ética que, no curso, é estudada em grandes linhas filosóficas, porém sem se aproximar das possíveis casos reais que deveriam ser discutidos.