São Paulo (AUN - USP) - Aumentar o valor agregado da sacarose, cuja produção é grande no Brasil, é o objetivo da patente "Processo contínuo de obtenção de derivados da sacarose", conforme seu coordenador, o professor Michele Vitolo, do Depto. de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. O resumo do trabalho já foi publicado pelo INPI (Instituto Nacional de Patentes Industriais) em 2 de fevereiro deste ano, concluindo a primeira fase do processo. Agora, encaminhado a um especialista, o projeto deve ser aprovado num prazo máximo de cinco anos, nos quais já pode ser comercializado. Financiado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), a patente confere grande importância à USP nos meios acadêmicos e industriais. O projeto contou com a participação da Farm. Ester Junko Tomotani, que desenvolveu uma tese sobre o tema.
Alguns benefícios motivaram a elaboração da patente "Processo contínuo da obtenção de derivados da sacarose". O primeiro deles diz respeito à economia de energia, que reduz os custos e poupa recursos ambientais. Isso se deve à temperatura média do processo, que varia entre 37ºC e 40ºC, bastante inferior aos 70ºC e 80ºC da síntese química, método diferente que visa os mesmos fins. Em termos ecológicos, o projeto é viável ainda por gerar praticamente nenhum poluente, apenas água, a sua segunda vantagem. O método fermentativo, por exemplo, em comparação, leva à formação de uma grande massa de microorganismos residuais, que devem ser obrigatoriamente inativados em laboratório para descarte posterior. O terceiro benefício consiste no caráter de inovação do próprio processo, a saber, transforma-se o substrato e separam-se os produtos ao mesmo tempo, eliminando etapas e acelerando sua produção.
Para ser patenteado, um projeto, mais que descobertas, tem de apresentar inovações. O "Processo contínuo da obtenção de derivados da sacarose" apresenta três delas. O professor Michele Vitolo explica que a primeira delas é o uso de enzimas no processo. Como já foi dito, procedimentos similares já efetuados se dão por síntese química e via processo fermentativo. Outra inovação é a colocação das duas enzimas utilizadas juntas no reator. Este aparelho, por sua vez, também traz um diferencial. Trata-se de um reator contínuo com membrana, que permite que simultaneamente à transformação da sacarose, ocorra separação dos produtos. Isto é possível uma vez que a membrana separa os produtos finais da solução inicial. Os derivados da sacarose obtidos no processo são a frutose e o ácido glicônico. A primeira é utilizada pela indústria alimentícia como adoçante. O segundo é aplicado pelos farmacêuticos na forma de gluconato de cálcio em medicamentos para o fígado (hepatoprotetores) e pelos químicos no polimento de superfícies metálicas. As enzimas utilizadas são invertase, que hidrolisa a sacarose em glicose e frutose e glicose oxidase, que converte a glicose em ácido glicônico. A patente tem grande potencial mercadológico especialmente no Brasil uma vez que o país comporta extensos canaviais em seu território.