Uma pesquisa realizada na Faculdade de Odontologia da USP analisou pacientes que se encontravam no processo de radioterapia para verificar se em sua saliva se encontravam vírus da família do herpes. Nos resultados, identificou-se uma predominância de alguns tipos de herpesvírus em relação a outros. A partir dessas descobertas, surge a possibilidade de abordar os efeitos colaterais da radioterapia sob uma nova perspectiva.
A radioterapia é, junto à cirurgia e à quimioterapia, o método mais indicado para o tratamento do carcinoma epidermóide. Esse tipo de tumor, por sua vez, representa 90% dos tumores malignos na região da cavidade oral. Ele tende a evoluir rapidamente, motivo pelo qual o tratamento é imprescindível.
O tratamento radioterápico, apesar de eficiente, é considerado agressivo. Ele consiste em utilizar radiação para destruir as células tumorais ou impedir que elas se multipliquem. Contudo, não há como limitar a exposição apenas às células que se quer eliminar. O tratamento acaba atingindo também as células e os tecidos saudáveis ao redor do tumor, comprometendo-os.
Uma consequência desse comprometimento é a mucosite, uma inflamação na mucosa da boca considerada a principal complicação da radio e quimioterapia. Ela pode evoluir e formar úlceras nessa região, o que interfere diretamente na qualidade de vida do paciente. A pesquisadora Michelle Palmieri explica que, muitas vezes, a mucosite dificulta a alimentação e a fala. “Em alguns casos, o paciente precisa suspender a radioterapia para tratar a mucosite, o que acaba afetando o tratamento oncológico”, afirma.
A pesquisa analisou a saliva dos pacientes em atendimento no ICESP (Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) que estavam fazendo radioterapia para tratar o carcinoma epidermóide na região da cavidade oral. A intenção era verificar a excreção oral dos herpesvírus e se esses agravavam os quadros de mucosite nesses pacientes.
Esses vírus foram especificamente abordados porque eles são agentes causadores de infecções oportunistas, que são aquelas que aparecem quando o paciente está imunossuprimido – ou seja, quando seu sistema imunológico está comprometido e sua qualidade de vida, prejudicada.
Os resultados mostraram a presença de quatro dos oito tipos de herpesvírus conhecidos, entre os quais se destacou o EBV. Esse vírus é mais conhecido como causador da mononucleose infecciosa, cujos principais sintomas são febre, dor de garganta e aumento dos gânglios linfáticos.
Apesar de não haver uma forma de eliminar o vírus em si (apenas os sintomas das doenças que ele provoca), os resultados da pesquisa abrem o precedente para outros estudos na mesma área – por exemplo, o estudo das modificações dos microorganismos na boca desses pacientes e suas correlações com a mucosite. “O objetivo é minimizar os efeitos colaterais para o paciente”, afirma Michelle.