ISSN 2359-5191

18/08/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 105 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Racismo, também, no Brasil
A xenofobia, presente desde a criação da nação brasileira, continua a afectar os mais pobres
"Elimina o racismo" é o que diz esse graffiti achado em Belfast, Irlanda do Norte. / Fonte: Wikimedia Commons

O racismo no Brasil é um problema. Um mal que, como diz o pesquisador da Escola de Comunicações e Artes da USP, Dennis de Oliveira, no seu estudo "Racismo e Dinâmicas de Subalternização Ética”, pode ser associado ao medo do desconhecido.

Um medo que, segundo o estudo, têm as suas razões no processo “assimilacionista” que “cria uma falsa imagem de que o racismo é mitigado, ou ainda não existe”, o que não acontece com outras experiências “como nos Estados Unidos e na África do Sul no período do apartheid”.

Para uma pessoa que é de fora, é um fato bastante chocante porque boa parte da população é negra. “Por conta da forma que foi constituída a sociedade capitalista brasileira no final do século 19 e a própria República, com viés positivista, estes processos históricos de modernização foram construídos com base na manutenção dos privilégios raciais oriundos do sistema escravista”, afirma Oliveira. “Foi uma ‘modernização conservadora’”.

De Oliveira não concorda com o conceito de “racismo cordial” cunhado pelo jornal Folha de São Paulo em 1995, pois “é frágil teoricamente”. Ele prefere o termo de “tolerância opressiva”, do professor Darcy Ribeiro, que o define como: “Tolerar o outro desde que possa reinar sobre seus corpos e mentes”.

A religião, “em particular a Igreja Católica” tem muito a ver na concepção que a sociedade tem dos negros. “[A Igreja] Teve um papel importante ao classificar negros e indígenas como "sem alma" e, portanto, destituídos de qualquer humanidade e podendo ser objetificados e explorados como trabalhadores escravizados”, explica Oliveira. “Mas a religião atua superestruturalmente, o que é determinante é o sistema de produção”.

Porém, o pesquisador não considera que seja um problema em crescimento no Brasil. Além disso, acredita que é um processo que vai se desenvolvendo. “Ele vai se modelando, de acordo com cada momento histórico. O que tem ocorrido ultimamente é que o racismo saiu do armário e se expressa publicamente principalmente porque por conta de alguns avanços nas políticas públicas institucionais de inserção de negras e negros e o próprio crescimento do movimento negro, a tolerância opressiva deixa de existir, pois não se trata mais de alguém que se submete a ser subalterno ou oprimido”, diz Oliveira.

Embora o racismo ainda seja forte no Brasil, Dennis acredita que os esforços feitos até agora deram para ter “uma visão estrutural do racismo”, mas lembra que “faz-se necessário ampliar o escopo dos estudos para outras áreas, como a jurídica, psicologia, entre outras”.

O projeto de pesquisa está ainda em andamento. “É um projeto guarda-chuva que dá guarida a vários estudos e projetos desenvolvidos no Neinb (Núcleo de Apoio à Pesquisa e Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro), sendo a parte relativa a mídia a que mais avançou”. 

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