São Paulo (AUN - USP) - Foi encontrado em uma espécie do limoeiro-bravo um grupo de substâncias ativas contra o parasita que causa a malária. A pesquisa, coordenada pela professora Dominique Corinne H. Fischer, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, tem analisado diversas espécies da flora paulista a fim de identificar alcalóides, que são antimaláricos em potencial.
A malária é uma doença infecciosa, febril e não-contagiosa causada pelo protozoário do gênero Plasmodium. Uma das formas de transmissão de um ser humano a outro se dá pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, vulgarmente chamado de mosquito-prego. Apesar dos estudos, ainda não há vacina contra malária. Trata-se de uma doença comum em regiões tropicais e subtropicais, como a África, Ásia e Américas Central e do Sul. No Brasil, de acordo com a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), a área mais atingida compreende a região da Amazônia.
No século XVII, na América do Sul, os jesuítas observaram o uso de cascas de quina pelos indígenas no tratamento de febre. O princípio ativo, a quinina, foi muito utilizado contra a malária até a Primeira Guerra Mundial, quando a dificuldade em seu abastecimento tornou necessária a formulação de antimaláricos artificiais, como a cloroquina e a pirimetamina. A utilização desses remédios sintéticos, entretanto, provocou o aparecimento de cepas (tipos) de plasmódios resistentes, entre eles o Plasmodium falciparum, causador da forma mais grave da doença. Além disso, os mosquitos transmissores também vêm desenvolvendo resistência aos inseticidas. Esses fatores, aliados aos movimentos migratórios, provocaram um recrudescimento da malária nos últimos 20 anos.
A equipe da pesquisa, formada também pelo professor Paulo Moreira, do Instituto de Química, e pela pesquisadora da Sucen, Silvia di Santi, selecionou espécies vegetais da flora paulista contendo alcalóides isoquinolínicos, cuja composição é semelhante a da quinina. A partir do fracionamento dessas plantas, foram realizados testes in vitro da atividade antimalárica das substâncias, utilizando sangue de indivíduos contaminados pelo Plasmodium falciparum. Em uma das espécies de limoeiro-bravo testadas, os alcalóides inibiram a atividade dos plasmódios. Segundo Dominique, um dos mecanismos de ação é o de inibição da síntese de proteínas do plasmódio, o que impede seu desenvolvimento.
O objetivo do trabalho, financiado pela Fapesp, consiste em identificar substâncias naturais, aproveitando a biodiversidade da flora paulista, que tenham propensão ou potencial antimalárico. Espera-se que, futuramente, elas possam ser modificadas para melhorar a eficácia e diminuir os efeitos colaterais. A partir do isolamento do princípio ativo, novos medicamentos poderão ser feitos, trazendo novas perspectivas ao tratamento da malária.