São Paulo (AUN - USP) - Os avanços das pesquisas desenvolvidas no Instituto de Química da USP sobre a bioluminescência em fungos - as únicas em todo o mundo - apontam uma aplicação do fenômeno na ecotoxicologia, que consiste na análise do nível de poluição em determinados ecossistemas. O fenômeno da bioluminescência em fungos já tinha sido descrito por Aristóteles e, durante séculos, maravilhou os observadores da natureza. No entanto, atualmente sabe-se ainda muito pouco sobre ele. Sua função ecológica, as enzimas e substâncias envolvidas no processo ainda são mistérios.
Esse tipo de estudo é inédito na literatura acadêmica. Sua importância vem do fato de os fungos desempenharem o papel de crucial importância em vários ecossistemas. Eles alimentam-se de cascas de árvores e, assim, reciclam todo o material ligno-celulósico da natureza. Muitos vegetais, ainda, combinam-se simbioticamente com os fungos para que estes os auxiliem a extrair água e sais minerais do solo. Em troca, os fungos recebem moléculas mais complexas, como vitaminas.
O professor explica, inclusive, que a característica alimentar desse cogumelo dá pistas do motivo da ocorrência da bioluminescência. Acredita-se que o fenômeno seja um mecanismo a mais que esses fungos encontraram para se defenderem da ação dos radicais livres, responsáveis por seu envelhecimento. Os fungos, para digerirem a celulose das cascas de árvores, precisam fazê-lo primeiro com a lignina, que a envolve e protege. Por causa disso, eles produzem imensas quantidades de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) uma série de espécies reagentes com o oxigênio, ficando suscetíveis ao “stress oxidativo”.
Assim, as enzimas geradas pelos fungos para se defenderem dessas substâncias nocivas - catalase, superóxido-dismutase e peroxidases - teriam o efeito colateral de fazer com que o ser vivo brilhasse no escuro. A ocorrência desse processo já foi comprovada em vaga-lumes.
O professor Cassius Vinícius, responsável pelo estudo, explica em que consiste a técnica. Primeiramente, coloca-se uma cultura de fungos em uma série de pequenas placas com tampas e espera-se um tempo determinado. Posteriormente, as amostras são seguidas para um equipamento que fará suas leituras, ou seja, que analisará a quantidade de luz emitida por elas em determinadas condições. Depois de calculado o parâmetro de comportamento do fungo nas condições ideais, cultiva-se um outro grupo de amostras acrescentadas de determinada substância, cuja toxicologia deseja-se descobrir.
As novas placas são devolvidas à estufa e, depois de um tempo adequado, a quantidade de luz emitida é observada de novo. A partir da variação daquele fator, pode-se fazer a correlação entre a toxicidade de certas substâncias tidas como nocivas aos fungos. Foi observado que, quanto mais tóxicas são as espécies, menor é a taxa de luz emitida.
A partir desses dados, a equipe conseguiu montar um gráfico de toxicidade das substâncias pela quantidade de luz produzida. No ponto médio da linha que determina esse gráfico, estabeleceu-se o parâmetro toxicológico EC50. A partir desse ponto, quanto menor a concentração de iluminação produzida, mais nociva a substância é ao fungo. Os testes foram feitos até o momento usando metais e compostos orgânicos.