No 35º Congresso Internacional de Geologia — sediado em Cape Town, na África do Sul, no início de setembro —, o professor Umberto Cordani, do Instituto de Geociências (IGc) da USP, apresentou a sociedade científica o resultado de doze anos de seu trabalho. Junto a Victor Ramos, docente da Universidade de Buenos Aires, Umberto coordenou a confecção do novo Mapa Tectônico da América do Sul, uma ferramenta imprescindível a geologia.
Um mapa tectônico explora a formação de terrenos com base no movimento das Placas Tectônicas — grandes fragmentos da crosta terrestre. A projeção atua como o ponto de partida para a exploração de recursos minerais, como petróleo, ferro e carvão; construção de usinas hidrelétricas, barragens; planejamento de uso do solo; trabalhos de sismologia entre outras aplicações. “Quando um trabalho desses for desenvolvido, é levado em conta os movimentos tectônicos, a unidade tectônica vizinha, entre outros aspectos abordados no mapa”, explica Umberto Cordani.
O trabalho coordenado pelo docente da USP e Ramos é a síntese do conhecimento tectônico atual, uma visão sob o estado de arte das formações rochosas, nas palavras do primeiro. Por mais de uma década, os professores discutiram o tema com diversos pesquisadores da América do Sul, a fim de recolher dados, sugestões e comentários quanto a elaboração do mapa. “O agradecimento creditado no Mapa é aos 52 colaboradores, que ofereceram dados e mapas prontos, mas certamente eu e o Victor conversamos com centenas de pessoas. Levou um certo tempo”, relembra Cordani.
Como resultado, adotou-se uma legenda unificada para toda plataforma Sul-Americana e região andina, embasada em três atributos desenvolvidos para viabilizar sua aplicação: idade do último evento tectônico que afetou a área; natureza do ambiente tectônico; idade de formação das rochas. Tais critérios foram também adicionados ao banco de dados integrado do Sistema de Informação Geológica.
Na projeção, as cores dizem respeito a idade de formação da rocha ou último evento tectônico que a modificou. As mais novas, em amarelo, correspondem a sedimentos descidos da Cordilheira dos Andes; as mais antigas, em roxo, têm origem ainda no supercontinente Pangea. Já os hachurados (linhas finas e paralelas, muito próximas umas das outras) mostram a configuração tectônica do terreno - vulcânica, sedimentar, metamórfica, entre outras.
O mapa foi proposto pela Comissão da Carta Geológica do Mundo (CGMW) em 2002, frente a necessidade de atualizar sua primeira e única versão, de 1978. Com avançada tecnologia, diversos aspectos da anterior foram esmiuçados, como a datação das rochas. “Datei muitas rochas que estão no mapa, foram mais de 100 nos últimos três anos, justamente para ajudar a composição do mapa”, conta Cordani.
Em 2004, quase dois anos após assumirem a coordenação do projeto, Cordani e Victor apresentaram um iconográfico, uma representação do que viria a ser a versão final do Mapa Tectônico da América do Sul. Nos 12 anos que seguiram, os colegas trocaram as informações coletadas por eles entre congressos, viagens e convites para palestrar na universidade um do outro. A projeção, em si, foi construída parte na Companhia de Recursos Minerais (CRM) do Brasil e no Serviço Geológico e Mineiro da Argentina (Segemar).
Quanto ao “prazo de validade” de seu trabalho, o professor afirma que um mapa nessa escala vai continuar muito tempo. "Acho que 20, 30 anos não é muito para ele, mas as pesquisas vão continuar”.