São Paulo (AUN - USP) - Desde que a televisão e o cinema se infiltraram no dia-a-dia das pessoas, o ser humano passou a pensar em imagens. É com base nisso que Verônica Veloso, mestranda do Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP, inicia este mês sua pesquisa sobre a influência que o teatro sofre a partir das mudanças ocorridas com a ascensão da lógica imagética no mundo.
A proposta de Verônica é simples: ela quer reunir o maior número possível de pessoas e formar um grupo teatral que estudará seis filmes modernistas brasileiros e depois montar cenas, tendo como base os formatos cinematográficos. Ela deixa claro que não pretende fazer um recorte temático ou uma mera adaptação das cenas dos filmes. Quer, na verdade, estudar os quatro elementos em comum do cinema e do teatro: espaço, corpo, tempo e texto – exatamente nesta ordem.
Verônica explica que antigamente o imaginário das pessoas era construído através da influência literária. Por extensão, a cena teatral seguia a mesma lógica. O teatro era influenciado por questões literárias: a narração, a representação, a figuração e a linearidade. Com o advento do cinema, o mundo entra em uma era imagética, tornando-se mais audiovisual, o que também acaba por modificar a forma de expressão humana e, conseqüentemente, a atuação do artista e a forma de composição do enredo pelo autor.
A pesquisa de Jogos do Olhar, nome que a mestranda escolheu para seu projeto, pretende elaborar um conjunto de jogos para a criação de uma encenação teatral, traduzindo alguns procedimentos específicos da linguagem do cinema para a linguagem dos palcos. Para que seja possível realizar os estudos, entretanto, Verônica precisa reunir o número mínimo de, aproximadamente, 20 pessoas dispostas a participar dos ensaios que ocorrerão três vezes por semana.
Durante a primeira fase da pesquisa, o grupo assistirá os filmes escolhidos por Verônica para a realização dos Jogos. São eles: “A Falecida”, de Leon Hirszman (1965); “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla (1968/69); “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha (1969); “São Bernardo”, de Leon Hirszman (1972); “Os Inconfidentes”, de Joaquim Pedro de Andrade (1972); “Toda nudez será castigada”, de Arnaldo Jabor (1972). Serão realizadas “sessões pipoca”, nas palavras da mestranda, para que as pessoas possam se familiarizar com a linguagem das obras.
Em um segundo momento, as pessoas peregrinarão juntas pelo campus da Cidade Universitária, em busca de um espaço que possa servir de cenário e palco para a elaboração das cenas. O lugar do público será definido nessa mesma etapa. “Eu pensei em encenar no velódromo do CEPE (Centro de Práticas Esportivas da USP) porque lá tem uma construção muito interessante”, diz Verônica.
O último passo é criar textos para as cenas que a essa altura já irão existir. “Por isso que não vai dar para recriar as passagens dos filmes, tudo vai ter um significado novo; nós vamos buscar isso”, explica a mestranda. Apesar do longo processo de pesquisa e da montagem de encenações, Verônica diz que não quer se sentir obrigada a apresentar uma peça após a conclusão de sua dissertação. “Isso me deixaria presa e quero que eu e o grupo todo estejamos livres para experimentar”, justifica ela.