ISSN 2359-5191

01/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 125 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Química
Terras-raras são utilizados para ampliar o rendimento de células solares
Teste inicial apresentou resultados consideráveis no que diz respeito ao aumento na eficiência da captação de energia
Painéis solares são dispositivos utilizados na conversão da luz emitida pelo Sol em energia elétrica / fonte: reprodução

A fotoluminescência é a propriedade que alguns elementos químicos possuem para armazenar energia quando expostos a fontes luminosas e posteriormente emiti-la na ausência de luz. Materiais com essa característica possuem diversas aplicações, desde seu uso na fabricação de placas de segurança, embalagens, até o rastreamento de um fármaco dentro de um animal.

Nesse contexto, o professor do Instituto de Química da USP, Lucas Rodrigues, coordena um laboratório criado há apenas dois anos, que busca utilizar os conceitos da fotoluminescência para ampliar o rendimento da captação de energia em células solares.

“Somente uma faixa pequena da energia que o Sol emite para a Terra é aproveitada na célula solar. A ideia é colocar compostos em cima da célula solar que convertam essas energias que estão sobrando para que ela seja mais eficiente”, explica o professor.

Tanto a energia em infravermelho (muito baixa) quanto a em ultravioleta (muito alta) são desperdiçadas pela célula. O intuito da pesquisa é desenvolver novos materiais luminescentes de alta eficiência e aplicá-los em conversores solares, otimizando o processo e diminuindo o custo. Dessa forma, parte dessa radiação infravermelha e ultravioleta é recuperada, o que resulta em um menor número de placas solares necessárias para gerar a mesma quantidade de energia.

Resultado de imagem para espectro de luz solar

As radiações infravermelha e ultravioleta aparecem nos limites do espectro de luz visível. Ambas podem ser recuperadas pelas células solares através da utilização de materiais fotoluminescentes. / fonte: reprodução

As células solares utilizadas nos experimentos são as disponíveis no mercado: “Não altero nada da célula solar, porque a ideia é aproveitar toda a estrutura que já existe dela, só colocando um algo a mais, para melhorar sua eficiência”. Lucas explica que seu trabalho não está relacionado com o processo da conversão da energia, mas, sim, com a aplicação de materiais na tentativa de aproveitar melhor essa luz.

Os compostos utilizados na busca por esse aumento na eficiência das células são os metais terras-raras, que constituem um grupo considerável de elementos químicos presentes na tabela periódica. Trata-se de metais extremamente abundantes no Brasil, porém, sua exploração ainda é limitada.

A pesquisa com essa geração de materiais mostra-se recente, sendo iniciada apenas a partir de 1996. Compostos que possuem os íons terras-raras são fotoluminescentes e o objetivo é que eles possam realizar a conversão da energia alta em mais baixa e da energia baixa em mais alta, aumentando a eficiência da célula solar.

Primeiros Testes

Na Escola Politécnica da USP, foi realizado, no início de setembro, o primeiro teste prático envolvendo essa linha de pesquisa. Um metal terra-rara foi depositado em um vidro e colocado em cima de uma célula solar. Observou-se, então, a variação da eficiência, porém os resultados não obtiveram sucesso. Foi necessário colocar um filtro em cima da célula para refletir a luz, que estava se dissipando. “No geral, diminuiu um pouquinho da energia da célula, porque ela não tem esse filtro. A ideia agora é otimizar o filtro para melhorá-la toda”, conta o professor.

Mesmo assim, ao comparar as duas células, a que possuía somente o filtro e a célula com o filtro e o composto sintetizado, foi possível identificar um aumento de 20% na eficiência da captação de energia solar.

O intuito agora é justamente trabalhar no material e buscar otimizá-lo para melhorar sua aplicação: “Primeiro queríamos ver se ia dar certo, se o material era eficiente, agora a gente vai trabalhar para deixá-lo mais estável, alterando morfologia, forma. De qualquer maneira foi um ganho considerável de eficiência para um teste inicial”.

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