ISSN 2359-5191

22/05/2007 - Ano: 40 - Edição Nº: 21 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Reportagem está virando uma caça às aspas ideais

São Paulo (AUN - USP) - O jornalismo migrou das ruas, da realidade, para as redações, de acordo com Carlos Azenha, repórter especial da rede Globo. Concorda com ele Ricardo Kotscho, também repórter, atualmente envolvido na produção de uma revista de reportagem, Brasileiras, para quem o jornalismo virou escravo da pauta, que diz o que e como deve ser visto e ouvido, para depois ser escrito, numa caça às aspas que possam confirmar o que querem dizer.

Ambos falaram aos estudantes de jornalismo da ECA-USP recentemente sobre reportagem, junto do iniciante Caio Cavecchini, que, apesar de recém formado, já possui um documentário com larga circulação e é repórter da rede Globo. Ele confirmou o que os seus veteranos de profissão disseram: é fazendo a reportagem, andando pelo mundo que se descobre mais e mais pautas, e não dentro de uma redação.

A reportagem, produção jornalística mais detalhada e aprofundada em um assunto, é para os três uma forma de sair da mesmice das colunas e dos noticiários, que se repetem em todos os meios. No entanto, é observável que cada vez mais a reportagem perde espaço, pois custa caro, exige tempo e também espaço, competindo com a publicidade. Mas Kotscho diz que a reportagem não deve morrer, os jornalistas devem lutar para mantê-la, pois é a maneira mais aprofundada de mostrar a realidade.

E para fazer reportagem Kotscho acredita que o jornalista deve dedicar sua vida, saber perguntar, ter noção de que não sabe tudo, porque quem acredita que sabe tudo vira então colunista, que não tem compromisso com a verdade. O repórter também deve inovar.

Inovação para eles é o que falta nos novos jornalistas. Acreditam que a universidade deveria ser um local de experimentação, onde os alunos ousassem e criassem novas formas de fazer o jornalismo, mas eles observam que ela tem sido muito mais um local de treinamento para as grandes redações. Ressaltam que os estudantes aprendem fórmulas de jornalismo, de como escrever, sem tentar criar e fugir das amarras que a edição atual tem imposto aos jornalistas.

Tudo isso culmina, segundo os três, em um divórcio entre jornalismo e realidade. Quem faz a pauta quer falar de quem lê o jornal, mas a realidade vai muito além desse público que tem acesso à mídia impressa. Os editores acreditam que aquele sertanejo analfabeto e sem nenhum dinheiro não merece aparecer no jornal, porque não é do interesse do leitor. Então o jornal só deve mostrar aquilo que o leitor quer ver ou deve ir além e mostrar a realidade, fazer o leitor ver? – questionam-se eles.

As novas tecnologias são, para Azenha, uma forma de driblar esse problema. A internet e as TVs comunitárias dão oportunidade para que a reportagem seja feita e a realidade das ruas, não a das redações, seja mostrada.

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