São Paulo (AUN - USP) - “Provérbios não vêm só da cultura popular, mas também da cultura erudita”, é o que explicou o professor Álvaro Bragança, integrante da Academia Brasileira de Filologia, em palestra apresentada na II Semana de Filologia, no dia 8/5. No evento, organizado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, Bragança discutiu sobre origem, importância e curiosidades dos provérbios.
Como exemplo de origem erudita, ele citou o provérbio “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” que séculos antes era “O homem aprende não pela força, mas pela freqüente leitura”, algo que era dito aos pupilos da aristocracia para se dedicarem aos estudos. Bragança ressalta que essas falsas pré-concepções (de se atribuir, por exemplo, provérbios a origens populares) são comuns, como quando se considera que não houve produção cultural alguma na Idade Medieval.
Segundo o professor, provérbio é uma palavra difícil de se explicar, mas, em linhas gerais, seria uma mensagem moral referendada por gerações. Suas origens são muito variadas, às vezes ditos populares, outras costumes eruditos e até origens curiosas, como no caso de manuscritos antigos de aprendizado do latim que viraram provérbios. Por isso, segundo Bragança, seria uma área de estudo que combina tanto com a filologia.
Filologia, para o professor, também seria algo de difícil definição, “filo” significa amizade e “logia” é saber. Então, amor ao saber, mas seria ainda uma definição vaga. Filologia é uma ciência que trabalha com textos, de uma maneira profunda, para entendê-los melhor.
Para Bragança, a apreensão filológica é então bastante útil na análise do que está por trás dos provérbios. Em suas pesquisas, concluiu que a utilização deles está associada à ancoragem do discurso, ou seja, recorrer ao conhecimento de gerações para conferir autoridade ao que está sendo dito. Notou também ser comum a utilização de figuras animais para ilustrar algo, geralmente de forma pejorativa, como a exemplo de um provérbio antigo “No couro em que nasceu, o asno há de morrer”, que revela a divisão de classes sociais da época e a visão negativa sobre as camadas mais pobres da população.