São Paulo (AUN - USP) - O critério que deve dominar em um trabalho de tradução é a literalidade, é o que explicou o professor José Rodrigues Seabra, doutor em línguas clássicas. Em sua palestra do dia 8/5 na II Semana de Filologia, organizada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o professor ressaltou ainda que, na medida do possível, deve-se até seguir a ordem em que as palavras foram dispostas originalmente.
Seabra, cujo trabalho mais recente foi a tradução do livro “Noites Áticas” (escrito no século II por Aulo Gélio), disse que esse cuidado deve predominar principalmente na tradução de textos antigos. Apesar de ainda importante, esse critério não seria tão rigoroso quando aplicado a textos estrangeiros contemporâneos.
A tradução do original em latim foi a primeira versão impressa em português da obra e, segundo o professor, baseou-se no critério do literal e das notas de rodapé. Para Seabra, “Noites Áticas” revela sua importância ao mostrar “uma visão única de um longo período da Romanidade”. A obra foi escrita entre 160 e 180 d. C., um período de reorganização da política imperial de Marco Aurélio, o que causou um momento de declínio literário.
Aulo Gélio, autor da obra original, era especialista em gramática e filologia (ciência que estuda textos crítica e profundamente, considerando influências históricas), tornando “Noites Áticas” ainda mais interessante aos olhos dos estudiosos da área. A obra traz também um pouco sobre a política da Antigüidade, com trechos e interpretações de leis romanas, documentos do senado da época, além de revelar a nostalgia que escritores daquele tempo sentiam em relação a séculos anteriores, de auge intelectual.
O professor comentou também sobre as dificuldades de se trabalhar com um texto tão antigo, como de por exemplo ter que buscar a origem de uma palavra para poder compreendê-la inteiramente. Seabra explicou como as obras desse período são importantes para os lingüistas, já que nelas a gramática é bastante explorada por conta da valorização da oratória na Roma Antiga.