São Paulo (AUN - USP) - Plantar árvores não é suficiente, devemos mudar nosso padrão de vida. É o que pensa Marcio Nahuz, do Centro de Tecnologia de Recursos Florestais do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas, sediado na USP) em se tratando da emissão de carbono na atmosfera. Para ele, há, hoje em dia, muitas empresas aproveitando-se de um método coerente, a neutralização de carbono, de uma maneira oportunista, buscando novas perspectivas de negócio.
O pesquisador afirma que o método de neutralização de carbono com o plantio de árvores é perfeitamente correto. Quando se planta uma árvore, esta passará a transformar energia solar em celulose, através do processo de fotossíntese. Uma molécula de celulose é formada por seis átomos de carbono, “seqüestrados” do gás carbônico da atmosfera. Assim, toda planta, especialmente antes de atingir seu estado clímax – quando praticamente se igualam as taxas de carbono que ela absorve e emite –, ou seja, enquanto ela cresce, efetivamente contribui contra o efeito estufa.
Nahuz critica, entretanto, o uso oportunista dessa técnica. Há atualmente, muitas empresas que prestam o serviço de “calculadoras”, ou seja, calculam para um interessado a quantidade de carbono emitido por determinada atividade. Em um artigo próprio, o pesquisador testou três calculadoras diferentes a partir do exemplo de uma viagem ida-e-volta de São Paulo a Nova Iorque. No primeiro método a viagem custaria 18 árvores; no segundo, 84 e no terceiro, 1000.
A diferença é óbvia, para o pesquisador, e se encontra na metodologia. A primeira calculadora deve considerar apenas o carbono emitido pela queima do combustível do avião; a segunda, deve expandir um pouco mais os limites do sistema, considerando, por exemplo, o combustível do táxi até o aeroporto. Já, a terceira, provavelmente expande muito mais, aos moldes de uma análise do ciclo de vida, podendo considerar fatores como a vestimenta do passageiro, as refeições tomadas, o ar condicionado ligado e toda a energia necessária para a preparação e o funcionamento disso tudo.
A questão é que uma metodologia de cálculo é muito mais simpática, financeiramente, que a outra, completa Nahuz. Supondo que o plantio de uma árvore custe mais ou menos R$10,00, o passageiro, considerando o primeiro método de cálculo, paga apenas R$180,00 para ter sua consciência limpa e poder partir para outra. A empresa lucra e, para ele, sua cota de poluição está extinta imediatamente.
O pesquisador confirma que a situação não é tão simples assim. A verdadeira forma de combater a degradação ambiental é rever o nosso modo de vida. Se todas as pessoas do mundo mantivessem um padrão de vida aos moldes do norte-americano, seriam necessários 10 planetas Terras para suprir todas as necessidades. E a “pegada ecológica” do paulistano médio, ou seja, quanto ele custa ao planeta, não é muito menos nociva; seriam necessários de três a quatro globos para que o mundo mantivesse esse mesmo padrão.
Muito além dos industrializados
Outro pensamento comum, segundo o pesquisador, é atribuirmos sempre a emissão de gás carbônico à industrialização dos países desenvolvidos, esquecendo a grande contribuição das queimadas da Amazônia, por exemplo. A prática é duplamente nociva: emite novas e altas doses de carbono e ainda acaba com as árvores, agentes neutralizadores. Nahuz comenta o terceiro relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), lançado em Bangkok, Tailândia, no dia 4 do último mês: “Até agora, os dois relatórios anteriores trouxeram notícias razoavelmente alarmantes. Esse novo relatório propõe soluções, mostrando que há tecnologia e há dinheiro. O que falta é vontade política”.