São Paulo (AUN - USP) - No lodo produzido em estações de tratamento de esgoto, podem ser encontradas diversas substâncias, desde metais pesados até fios de cabelos, sendo muitas delas tóxicas e de difícil degradação. Ultimamente, na busca de um desenvolvimento sustentável, o lodo de esgoto vem sendo utilizado na agricultura. Contudo, de acordo com o professor Joel Sígolo, essa medida pode acarretar também, além de problemas na agricultura e alimentos, impactos ao meio ambiente. No momento, ele estuda outras propostas, como o uso de materiais capazes de absorver os metais pesados do lodo.
A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Barueri é a única, entre as cinco existentes na RMSP (Região Metropolitana de São Paulo), cujos resíduos não foram sempre direcionados para aterros sanitários. Eles costumavam ser acumulados diretamente sobre o solo, no próprio terreno da estação, de acordo com Joel Sígolo. Por isso, ele escolheu essa área para suas pesquisas. Para Joel, ela é um “laboratório natural”. O lodo de esgoto contamina o solo e águas subterrâneas e, posteriormente, a água da superfície, podendo trazer diversos problemas de saúde para a população que vive nas proximidades. Além disso, ele pode contaminar os lagos de água tratada (mas não potável, que é vendida para uso industrial - sendo feito um aproveitamento de água), situados no interior da ETE Barueri. Só a partir de 1996, o lodo dessa ETE começou a ser levado para o Aterro Sanitário Bandeirantes, por incapacidade de abrigar mais desse material em seu espaço. Depois, o chorume originado nos “lixões” também é disposto nas estações. Segundo Sígolo, esse processo ajuda a reduzir o volume de lodo de esgoto. É produzida, diariamente, uma média de 127 m³ de lodo (como um prédio de cerca de cinco andares ocupando um quarteirão inteiro). Hoje, além de ser encaminhado para aterros, o lodo é aplicado, conforme homologado pela Cetesb, como fertilizante na agricultura, por conter nutrientes para plantas. Contudo, ele também apresenta elementos prejudiciais ao conjunto do solo, da água e da planta. Esta irá, por sua vez, servir de alimento para animais e o homem.
Sígolo e Paulo Roberto de Araújo traçaram um raio de 100 km da capital para onde compensaria economicamente transportar o lodo de esgoto aqui produzido. Nestes locais, verificaram a possibilidade de usar o lodo na agricultura dos vários municípios dessa região. O principal problema apontado é a elevada concentração de metais pesados (que contaminam a cadeia alimentar) no lodo de esgoto da RMSP, além da presença de agentes patogênicos. O clima tropical é um agravante, já que as chuvas facilitam a remoção de materiais no solo (lixiviação) e o transporte do lodo para águas superficiais, e o lodo de esgoto apresenta mobilidade em meio aquoso. As chuvas ácidas ainda favorecem a liberação dos metais. Os solos de toda a área estudada apresentam restrição quanto à sua acidez (pH), e também quanto à sua declividade e à sua textura arenosa. Para os autores, o uso desse material como fertilizante seria mais apropriado no noroeste do estado, nas monoculturas de cana-de-açúcar, região já um tanto distante da capital.
A provável origem desses metais pesados é variável. De acordo com o professor, o cromo, o cobre, o zinco e o níquel são resultantes de pequenas indústrias de niquelação e eletro-eletrônicas; a prata, o mercúrio e o ouro, de consultórios odontológicos em residências. Muitos deles podem causar sérios danos à saúde do homem (o cobre e o zinco, por exemplo, são cancerígenos). Daí a importância de captá-los no lodo de esgoto. Trata-se da reabilitação do meio ambiente contaminado. Joel Sígolo propõe a adsorção (fixação de uma molécula de determinada substância na superfície de outra) de alguns desses metais por óxidos hidróxidos magnéticos, que seriam “esferas capazes de segurar o cobre, o zinco, o alumínio, o cromo, o cádmio e o chumbo”. “Ainda não consegui detectar com clareza a proveniência delas para fazer em escala industrial”, afirma Joel, mas ele continua seus estudos sobre o tema. Ele também dará início, no próximo mês, a pesquisas de campo com turfas (restos de vegetais em decomposição), que realizariam função de adsorção semelhante à dessas esferas, “prendendo o material e deixando a água passar”.