São Paulo (AUN - USP) - Uma pesquisa do Instituto de Geociências da USP desenvolveu um tipo de fossa para a destinação de detritos residenciais. O novo sistema de tratamento procura evitar, sobretudo, a contaminação das águas superficiais e subterrâneas por microorganismos e por nitratos, usando em sua composição resíduos de siderúrgicas e materiais orgânicos.
A nova fossa é composta por camadas, cada uma responsável pela retenção de um tipo de contaminante que poderia atingir a água no local. Uma das camadas é composta por resíduos siderúrgicos e funciona como um imã, atraindo e neutralizando as bactérias e outros microorganismos por interações de carga. Há, também, uma camada de matéria orgânica que favorece o processo de desnitrificação. Assim, elimina-se a contaminação por nitratos e o nitrogênio é devolvido para a natureza de maneira segura.
A pesquisa é parte do Doutorado de Alexandra Vieira Suhogusoff e o desenvolvimento da nova fossa se deu com base nas análises feitas no Jardim Santo Antônio, no distrito de Parelheiros, Zona Sul de São Paulo. O local é bastante problemático, uma vez que a região não possui nem serviço de abastecimento de água, nem de coleta de esgoto, por estar numa área de mananciais. Desta forma, as fossas negras acabam contaminando a água dos poços, o que pode trazer uma série de problemas de saúde para a população local. Análises laboratoriais mostraram que 57 % dos poços estão contaminados por coliformes fecais.
A solução proposta para a região do Jardim Santo Antônio vai além da implementação da nova fossa. Os pesquisadores pensaram os lotes da região como um todo, levando em conta a proximidade dos poços num mesmo loteamento, bem como nos vizinhos, e o relevo da região na hora de determinar áreas seguras para a construção das fossas.
Para chegar a essas conclusões, eles cadastraram e analisaram cerca de 200 fossas negras do bairro, fazendo uma avaliação de suas paredes laterais, tampas e vedação; além da proximidade com os poços e fossas dos terrenos vizinhos, encanamentos e de outros possíveis contaminantes como a criação de animais, atividade comum no bairro.
Uma vez detectadas as fontes contaminantes, os pesquisadores puderam, não só trabalhar no desenvolvimento da nova fossa, mas também instruir a população. Por meio de palestras realizadas no bairro em conjunto com a sub-prefeitura, eles puderam explicar como deve ser a construção e manutenção de um poço e que atividades devem ser evitadas próximas ao local.Depois de implementada a nova fossa, a região do Jardim Santo Antônio vai ficar alguns anos sob constante observação. Análises da água e da atuação dos componentes da fossa serão constantes, pois ainda não se sabe por quanto tempo eles ficarão ativos e terão eficiência na contenção dos contaminantes. A idéia é que o projeto seja expandido e esta nova fossa possa ser usada em outras regiões com características semelhantes às do Jardim Santo Antônio.