São Paulo (AUN - USP) - Projeto de pesquisa desenvolvido pelo Instituto de Geologia da USP investiga as causas da alta concentração de cromo hexavalente no Aqüífero Adamantina, região noroeste do Estado de São Paulo. O problema da região é conhecido há cerca de 15 anos e traz uma série de transtornos para a população local, uma vez que o consumo de cromo em excesso pode levar ao desenvolvimento de doenças como o câncer.
Quando o projeto começou, acreditava-se que as altas concentrações de cromo na água eram devidas às atividades humanas. Contudo, com o início das investigações, descobriu-se que as causas eram naturais. Trata-se de um fenômeno com baixa ocorrência no mundo e que surpreendeu os pesquisadores.
Para entender os motivos das altas concentrações de cromo nas águas da região, o projeto pretende fazer uma análise da composição das rochas e das condições da água em diferentes profundidades. Para isso, foram construídos dois poços de 100 metros cada um na região de Urânia, cidade onde o fenômeno é mais intenso, e que foi escolhida como amostra para se entender o problema. O desafio, segundo o professor Reginaldo Bertolo, coordenador do projeto, é entender a origem do cromo nas rochas da região e como ele passou da fase sólida para a água.
A primeira etapa do projeto, a retirada e análise de composição das rochas, já foi concluída. O que se pode observar é a presença de augita, mineral do grupo dos piroxénios, que tem cromo hexavalente em sua composição e é forte suspeito de ser a fonte primeira do cromo na água da região. Outra constatação é que os demais minerais que compõe o solo da região possuem grande quantidade de cromo em adsorção, ou seja, ligados à sua superfície eletricamente.
No entanto, como afirma, Reginaldo, essas ligações são fracas e o cromo pode estar sofrendo desadsorção. Uma das causas para isso pode ser um processo natural de ganho de estabilidade desses minerais, fenômeno conhecido como intemperismo químico. Desta forma, o mineral ganha estabilidade e já não se torna eletricamente atraente para o cromo, que volta para a fase líquida do subsolo.
Ainda em julho, os pesquisadores voltarão a campo para a segunda fase do projeto, a coleta e análise das águas dos poços de Urânia. O objetivo final do projeto é, uma vez entendido o processo, fazer um mapeamento das regiões e profundidades em que é segura a construção de poços, permitindo o uso sustentável das águas e sem oferecer riscos à saúde da população.
O projeto é fundamental para a região, pois, muitas vezes, a concentração de cromo supera o limite de potabilidade. Nestes casos, além de não poderem utilizar os poços já perfurados, o uso de outras fontes, como o tratamento de águas superficiais, encarece bastante a produção. Isso tem implicações econômicas grandes para muitos dos cerca de 53 municípios atingidos pelo problema.