São Paulo (AUN - USP) - É preciso discutir novas abordagens por parte da mídia, que deveria tratar as vítimas de exploração sexual como qualquer outra criança e não como profissionais do sexo. Isso foi colocado por Leila Paiva, diretora do Programa Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Crianças e Adolescentes, em debate realizado recentemente na Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), que contou com a presença do jornalista Mauri Konig e da pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Maria José Leal.
A palestra é a primeira de um ciclo de debates organizado em parceria entre a ECA e a ANDI, organização que busca defender os direitos da criança e do adolescente por meio da mídia. Além de monitorar a cobertura da mídia sobre temas ligados à criança, atua junto a faculdades de jornalismo na mobilização de estudantes.
Mauri Konig falou sobre sua experiência na cobertura sobre prostituição infantil para o jornal paranaense Gazeta do Povo. A idéia surgiu durante o Concurso Tim Lopes, da ANDI, que premia projetos de reportagem sobre exploração sexual de crianças e adolescentes. Seu projeto foi premiado com uma bolsa de R$ 9.500 para execução da reportagem. A idéia inicial era seguir a linha fronteiriça do Brasil, de Chuí (RS) até Corumbá (MS), fazendo um mapa da exploração. As matérias foram publicadas pela Gazeta do Povo com grande repercussão, de modo que, no ano seguinte, o próprio jornal bancou a continuação do projeto, dessa vez indo de Cáceres (MT) a Oiapoque (AP).
Um dos maiores desafios do projeto foi a questão ética. Konig conta vários dilemas vividos durante a execução da reportagem, como um caso ocorrido em Ponta Porã, no qual o repórter simulou que ia fazer um programa com uma menina, para averiguar a conivência de parte da rede hoteleira com a prostituição infantil. Também foi necessário pensar a todo instante na segurança dos repórteres, que procuraram evitar lugares muito perigosos, como boates dominadas por traficantes de drogas.
Segundo Konig, em muitos casos a criança é explorada pelos próprios pais, em busca de ajuda financeira. Além disso, em muitos lugares, a exploração sexual de crianças e adolescentes é vista com grande naturalidade.
A pesquisadora da UnB, Maria Lúcia Leal, discutiu o papel da universidade no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. Critica a visão moralista e vitimizadora dada pela mídia e os debates atuais sobre exploração sexual, que se focam apenas em ações compensatórias. Segundo ela, é preciso questionar as razões dessa extrema desigualdade social que transforma pessoas em seres abjetos. Lembra que a criança não é explorada devido a uma escolha pessoal, mas por conta de uma conjuntura social na qual as políticas públicas falharam e seus direitos não são respeitados.